sábado, 18 de novembro de 2017

Embaixador afastado tem histórico de assédio


"Você estava uma gostosa ontem" 

Folha de S.Paulo – Patrícia Campos Mello

Afastado do cargo na semana passada por causa de denúncias de assédio sexual, o embaixador João Carlos de Souza-Gomes, 69, chefe da delegação do Brasil junto à FAO (braço da Organização das Nações Unidas para Alimentação e Agricultura), em Roma, tem um histórico de acusações de subordinadas.
Folha conversou com sete diplomatas e funcionários que trabalharam com Souza-Gomes em postos em que ele serviu, inclusive no último. Todos relataram episódios de assédio sexual e moral. A reportagem tentou contatar o embaixador Souza-Gomes por diversos meios, mas não obteve resposta.
Segundo relatos de parte das pessoas ouvidas, que pediram para ter seus nomes omitidos, o diplomata exigia que uma subordinada o ajudasse a se vestir: ela tinha de se ajoelhar, colocar as meias nele, abotoar suas calças e fechar sua camisa. Frequentemente, ainda segundo os relatos, ele saía do banheiro com as calças abaixadas ou a braguilha aberta. E fazia piadas: "Você viu, né? Você gostou, né?"
Em outro posto, relataram entrevistados, teria dito a uma subordinada : "Você estava uma gostosa ontem" e pedido para outros diplomatas aplaudirem a mulher.
"Não falávamos nada porque tínhamos medo, a gente podia sofrer retaliação", disse uma diplomata.
Uma das vítimas precisou de tratamento psiquiátrico para síndrome do pânico após as investidas do embaixador. Outra passou a tomar remédio contra ansiedade.
Ao longo de 43 anos de carreira diplomática, Souza-Gomes foi designado para postos importantes: chefiou as embaixadas do Brasil na Venezuela e no Uruguai, a missão junto à Unesco, em Paris, e serviu nos consulados em Nova York e São Francisco.
Ele é conhecido como "João do Pulo", por sua ascensão meteórica na carreira, relacionada por colegas a suas conexões políticas.
Em um posto, segundo um relato, agarrou uma funcionária pelo pescoço e usava a expressão "cabelo Bombril" para falar de alguns funcionários negros. Também há descrições de episódios em que chamava subordinados de "burros" ou "incompetentes" aos gritos.