O
juiz federal Sérgio Moro determinou, hoje, que a defesa do
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva esclareça se possui os originais
dos recibos que comprovam o pagamento de aluguéis de um apartamento
vizinho ao que o petista mora, em São Bernardo do Campo. Caso eles
existam, o juiz determinou que eles sejam entregues.
A propriedade do apartamento faz parte da denúncia apresentada pelo
Ministério Público Federal (MPF), que acusa o político de receber
propina da Odebrecht. De acordo com a denúncia, o imóvel foi comprado
por Glaucos da Costamarques, a pedido do pecuarista José Carlos Bumlai,
amigo de Lula. O apartamento é alugado pela família do ex-presidente há
vários anos e abriga atualmente os seguranças que fazem a escolta
pessoal do petista.
Para os procuradores, Costamarques comprou o apartamento com dinheiro
da Odebrecht. A denúncia afirma que a compra do imóvel seria um
pagamento de propina ao ex-presidente, em decorrência dos contratos que a
empreiteira mantinha com a Petrobras.
Para contestar a versão, a defesa de Lula apresentou os recibos, para
comprovar que a família de Lula paga os aluguéis regularmente. As datas
são de 2011 a 2015. Alguns dos recibos possuem erros de grafia
semelhantes, além de datas que não constam no calendário.
A defesa de Glaucos da Costamarques, que também é réu no mesmo
processo, afirmou ao juiz Sérgio Moro que o cliente assinou todos os
recibos em um único dia, a pedido do advogado de Lula, Roberto Teixeira,
no fim do ano de 2015. Naquela ocasião, Costamarques estava internado
em um hospital de São Paulo, para fazer um tratamento cardíaco.
O MPF, por sua vez, contesta a originalidade dos documentos. Os
procuradores abriram um incidente de falsidade criminal, procedimento
para investigar a origem de provas anexadas a um processo. Os
procuradores querem que seja feita uma perícia nos originais dos
recibos. Eles acreditam que há indícios de fraude na confecção dos
documentos.
Na decisão, Moro apenas determinou aos advogados de Lula para que
apresentem os originais dos recibos, caso eles estejam disponíveis. Ele
diz que ainda não é o momento a se determinar a perícia. "Há dúvida,
tratando-se de suposto falso ideológico, quanto à adequação de perícia
técnica para a solução da controvérsia. Não obstante, trata-se de
questão a ser analisada em seguida", afirma.