Eleições 2018
Integrantes da base aliada já veem cenário para rompimento com o governo com vistas à eleição.
O Globo – Catarina Alencastro
O Globo – Catarina Alencastro
Embora
negue qualquer movimento para derrubar o presidente Michel Temer, o
presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), adotou um comportamento
diferente do que teve durante a tramitação da primeira denúncia contra o
presidente, entre julho e agosto. Se naquele período Maia, que é o
primeiro na linha sucessória do presidente, ajudou o governo a
conquistar votos para barrar as investigações, agora ele se sente
liberado da tarefa.
A
mudança pouco tem a ver com o conteúdo da nova denúncia, que começou a
ser apreciada na semana passada pela Câmara, na qual Temer e dois
ministros são acusados de formação de quadrilha e obstrução da Justiça.
Sua insatisfação com o Planalto foi causada, principalmente, pela
abordagem que o partido de Temer, o PMDB, faz sobre quadros políticos
que vinham sendo cobiçados pelo DEM.
Devido
ao poder que ganhou na presidência da Câmara e, posteriormente, como
sucessor natural de Temer, combalido por denúncias que podem afastá-lo
do Planalto, Maia assumiu a tarefa de aumentar o tamanho de seu partido.
O principal alvo do DEM era o grupo de parlamentares da ala dissidente
do PSB. O PMDB atravessou o caminho e já conseguiu levar o senador
Fernando Bezerra Coelho e o filho dele, o ministro Fernando Coelho
Filho. A líder do PSB na Câmara, Tereza Cristina (MS), teve várias
conversas com Maia sobre mudança para o DEM, mas também tem sido
cortejada pelo PMDB.
No
último dia 20 de setembro, uma semana após Rodrigo Janot apresentar a
segunda denúncia contra Temer, Maia tornou público o que vinha falando
nos bastidores:
— Se nós somos aliados, nós temos que ser aliados. A gente não pode ficar levando facada nas costas do PMDB. Principalmente dos ministros do Palácio e do presidente do PMDB.
— Se nós somos aliados, nós temos que ser aliados. A gente não pode ficar levando facada nas costas do PMDB. Principalmente dos ministros do Palácio e do presidente do PMDB.
Apesar
das seguidas demonstrações de Maia de que a relação com o presidente
azedou, interlocutores seus afirmam que não partirá dele a iniciativa de
se movimentar para afastar o presidente.
—
O Rodrigo puxou para si a tarefa de fazer o DEM crescer. E o PMDB está
atropelando. Isso o tem deixado indignado. Ele sente que não tem mais
compromisso com o governo. Mas não quer fazer o gesto de agir contra o
presidente porque não acha correto. Se alguém quiser fazer, ele não vai
impedir — disse um deputado amigo.
Líderes
de partidos da base aliada veem as atitudes de Maia como um movimento
irreversível para o rompimento do DEM com o governo. A avaliação é que o
projeto político do partido para 2018 inclui o afastamento imediato do
governo Temer. O projeto prevê as candidaturas de Cesar Maia ao Senado,
de Rodrigo ao governo do Rio e de ACM Neto ao governo da Bahia. Mas não
está descartada a presença do partido na chapa presidencial.
—
Quem vai decidir esse rompimento é o Rodrigo Maia e o ACM Neto. Quem
ainda segura é o ministro Mendonça Neto. O Rodrigo tem dado avisos muito
claros, está arrumando desculpas para justificar o rompimento — avalia
um dirigente de um dos partidos da base do governo.
A
ordem no Planalto é não alimentar o confronto com o presidente da
Câmara, para não dar mais importância ao embate do que ele realmente
tem. Assessores dizem que o governo não vai fingir que os problemas não
existem, mas evitará o embate direto. (Colaboraram Leticia Fernandes, Maria Lima e Patrícia Cagni)