Foto: Tomaz Silva / Agência Brasil
Em um bairro afastado de Genebra, na Suíça, um armazém de
proporções impressionantes guarda alguns dos maiores segredos da Europa:
pinturas de alto valor, peças arqueológicas e joias. Mas também ouro
brasileiro. Trata-se do Ports Francs de Geneve, uma espécie de
entreposto comercial e cofre-forte em um dos locais mais seguros do
mundo. O jornal O Estado de S.Paulo confirmou que Carlos Arthur Nuzman é
de fato "cliente" do local, especializado em guardar itens de valor.
Ali, segundo a polícia, o brasileiro guarda 16 barras de ouro.
Investigadores suíços disseram que vão cooperar com o Brasil e que o
congelamento dos ativos, a transmissão dos dados e eventual repatriação
do ouro poderão ocorrer. Mas antes que o Ministério Público da Suíça
pudesse tomar uma iniciativa, funcionários do alto escalão do
cofre-forte em Genebra confirmaram por telefone ao jornal O Estado de
S.Paulo que Carlos Arthur Nuzman era seu cliente. Não sabiam da prisão
do cartola e insistiram que o tema fosse tratado na próxima
segunda-feira, quando a pessoa encarregada dos temas de Nuzman estaria
no local. O aluguel do cofre foi alvo de contato de um representante de
Carlos Arthur Nuzman "há alguns dias". Ninguém sabia da prisão dele. A
ligação foi então repassada para outro funcionário, que disse não haver
qualquer tipo de ação policial até aquele momento, cerca de 15h30, e
que, portanto, se alguém viesse com procuração de Nuzman, poderia levar o
conteúdo do cofre. Mas admitiu que, se uma ordem policial chegasse,
teriam de cumpri-la. "Por enquanto, não recebemos nada", disse. Era um
prédio imponente nas proximidades do estádio de Genebra e da linha de
trem. Conhecido por suas polêmicas ao longo dos anos por abrigar peças
roubadas e artigos arqueológicos de valor, o gerente não informou quanto
custa para alugar um cofre. Deu o e-mail de um responsável: o nome era o
mesmo que aparece entre os cartões de visita descobertos na casa de
Carlos Arthur Nuzman, no Rio de Janeiro. Enquanto a reportagem
consultava documentos oficiais no local, funcionários do cofre-forte
discutiam como tinham recebido um telefonema de alguém buscando
informações sobre Carlos Arthur Nuzman e como, sem saber que se tratava
de um repórter, repassaram os dados. "Não fizemos o nosso trabalho",
dizia um dos responsáveis sem saber que a discussão ocorria diante do
jornalista que havia feito a ligação. Para se justificar, disseram que o
repórter se apresentou como sendo advogado de Carlos Arthur Nuzman. A
reportagem deu seu nome real aos funcionários, indicando que queria
falar sobre o caso do presidente do COB. A reportagem entrou em contato
com os procuradores para relatar o ocorrido. Tradicionalmente, guardar
ouro ou diamantes em Genebra tem vantagens. Nos serviços de aluguel de
cofre visitados pela reportagem, nenhum deles exige a procedência do
objeto. Já nos bancos, qualquer movimentação de brasileiros tem sido
suscetível de exame por parte de gerentes, cada vez mais pressionados a
saber origens de tudo. Carlos Arthur Nuzman não é o único ator dos Jogos
do Rio-2016 com ouro em Genebra, cidade a 60 quilômetros da sede do
COI. Há seis meses, o jornal O Estado de S.Paulo revelou que o
ex-governador Sergio Cabral tinha barras do metal e pedras preciosas em
dois locais da cidade suíça. No total, envolveriam US$ 3,5 milhões (R$
10,8 mi). Um dos locais usados é da mesma rede de serviços que Nuzman
utilizou. No caso de Cabral, a opção foi manter os ativos em entreposto
perto do aeroporto. A Suíça vai cooperar com o Ministério Público para
identificar, congelar e, eventualmente, devolver recursos de Carlos
Arthur Nuzman. O Departamento de Justiça e Polícia da Suíça recebeu
pedido de cooperação no último dia 28, referente aos ativos do
dirigente. "Após exame sumário, delegamos o pedido ao Escritório do
Procurador Geral da Suíça para que seja executado", informou o
Departamento de Justiça. Entre os pedidos do Brasil está o confisco de
contas bancárias e de barras de ouro, em Genebra e Lausanne. Mas o que
os procuradores brasileiros pedem é que os investigadores suíços
identifiquem as contas em nome de Nuzman, assim como aquelas em que ele
poderia ser beneficiário. Bancos suíços têm a obrigação de informar às
autoridades sobre eventuais contas que possam existir relacionadas ao
brasileiro. Nesta quinta-feira, a Justiça repassou o pedido de
cooperação do Brasil ao Ministério Público, em Berna, para que seja
executado. Em setembro, a reportagem revelou que a polícia descobriu nos
computadores de Carlos Arthur Nuzman e-mails no quais ele se dirigia à
Associação Internacional de Federações de Atletismo (IAAF, na sigla em
inglês), solicitando que pagamentos fossem realizados a uma conta em
Lausanne. A entidade era governada por Lamine Diack, acusado de compras
de voto do Rio.