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Foto: Agência Brasil
O delator Renato Chebar, doleiro que revelou o esquema de 
ocultação, no exterior, de dinheiro de propina recebida pelo 
ex-governador do Rio Sergio Cabral (PMDB), confirmou, em depoimento ao 
juiz da 7ª Vara Federal Criminal, Marcelo Bretas, nesta segunda-feira, 
9, que operava, com o irmão, Marcelo Chebar, contas num total de US$ 100
 milhões, em bancos na Suíça, Andorra, Luxemburgo, Uruguai e Bahamas. Os
 irmãos Chebar já haviam prestado informações por meio de delação 
premiada. O dinheiro era depositado em diversas contas de modo a não se 
levantar suspeitas, eles explicaram. Neste domingo, os dois irmãos 
confirmaram que trabalharam para o peemedebista desde 2000, quando ele 
ainda era deputado estadual. O volume de dinheiro ilícito movimentado 
foi tão grande que os operadores tiveram de pedir ajuda a outros 
doleiros, ambos contaram. Um funcionário do escritório de câmbio deles, 
Vivaldo Filho, também foi ouvido por Bretas, e confirmou ter estado 
diversas vezes com os emissários de Cabral. Um encontro se deu no meio 
da Avenida Niemeyer, que liga os bairros do Leblon e São Conrado, na 
zona sul do Rio. "Quando ele se tornou governador (em 2007), o volume de
 negócios aumentou substancialmente. Eu e meu irmão não tínhamos 
condições de dar conta. Chegavam os reais à minha mão, e minha função 
era transformá-los em dólar no exterior. Isso até 2014. De 2014 até 
2016, se inverteu", disse Renato, referindo-se ao momento em que começou
 a fazer pagamentos de contas pessoais de Cabral e de sua família no 
Brasil. Esses pagamentos se referiam a contas de cartões de crédito, 
cota condominial, mensalidades escolares e do clube do Flamengo, faturas
 de curso de inglês, de floriculturas, restaurantes, grifes de terno e 
carnês do INSS de funcionários de Cabral. "Nosso escritório éramos meu e
 meu irmão, a gente terceirizou o serviço para dois doleiros do Uruguai,
 que eram o Vinicius (Claret, o "Juca Bala") e o Claudio (Barbosa) 
(ambos presos em março). No começo não fazia parte do trabalho pagar as 
contas. Depois a gente passou a pegar e levar dinheiro. Nunca eram R$ 10
 mil, eram sempre R$ 150 mil ou R$ 200 mil. Tinha trabalho três ou 
quatro vezes por semana", contou Marcelo. "Em 2014, por uma questão 
emocional, eu quis sair. Eu saí no final de 2014 e Renato ficou até 
2015, eu assumia quando ele viajava. Desde 2007 a gente vivia 
exclusivamente desse dinheiro de Cabral, por causa do volume. No começo a
 gente só ganhava o câmbio, depois começou a cobrar para ter essa 
atividade, então eu ganhava 1% da operação mensal dele", Marcelo 
acrescentou. 0Ele não quis revelar qual valor recebia pessoalmente, ao 
ser questionado sobre seu lucro e patrimônio pelo advogado de Cabral, 
Rodrigo Roca. "Não sei que influência seu patrão ainda tem. É minha vida
 particular. Prefiro não responder", justificou. Renato disse que as 
entregas eram feitas em endereços mandados pelos assessores de Cabral, e
 que o escritório não sabia quem morava neles os encontros eram, em 
geral, na portaria. "Eu não falava com o Cabral diretamente. A minha 
ponta de interlocução era o Carlos Miranda. Ele me passava uma planilha 
na segunda ou na terça-feira dizendo onde seriam as entregas e 
recepções, e me dava o endereço para entregar R$ 150 mil, R$ 200 mil", 
declarou Renato. "Quando era um volume que dava pra carregar, meu 
funcionário ia". A partir das delações dos dois irmãos, já foram 
repatriados cerca de US$ 103 milhões (por volta de R$ 327 milhões), de 
bancos, fundos e joias que eram de Cabral.
