Elio Gaspari - Folha de S.Paulo
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Michel Temer é professor de direito e pode vir a revogar o asilo concedido por Lula ao italiano Cesare Battisti,
acusado pelo governo de seu país de ter militado numa organização
terrorista, tendo praticado quatro homicídios. Para que o professor
Temer prevaleça, será necessária a anuência do Supremo Tribunal Federal.
Por enquanto, o ministro Luis Fux travou a maluquice com uma liminar a favor de Battisti.
Extraditando-o,
o Brasil entrará na galeria dos países que entregaram asilados. Logo o
Brasil, onde vivem centenas de septuagenários, alguns deles
ex-militantes de organizações que praticaram atos terroristas e foram
salvos pelo asilo ou pela proteção de outros governos, que os acolheram
durante a ditadura. A concessão do asilo é uma prerrogativa do soberano e
Lula exerceu-a. Battisti foi terrorista? Em 1963 o Brasil asilou o
ex-primeiro ministro Georges Bidault, presidente da organização que
defendia a Argélia francesa, à qual estava apensa a Organização do
Exército Secreto, grupo terrorista que matou cerca de 2.000 pessoas.
Revogar
um asilo entregando um cidadão ao governo que deseja capturá-lo é coisa
rara. O general chileno Augusto Pinochet matou brasileiros exilados,
mas nunca fez isso em nome da lei. A ditadura argentina sequestrava
brasileiros em Buenos Aires e argentinos no Rio, mas fazia isso
clandestinamente.
No
ano do centenário da Revolução Russa, Temer deveria pensar no papelão
que fez o rei George 5º da Inglaterra em março de 1917, retirando a
oferta de asilo à família real russa. Era só oferta, mas um ano depois
os bolcheviques mataram o ex-czar Nicolau 2º, sua mulher e os cinco
filhos.