"Ele [Moreira] sabe que se essa medida não for votada ele vai pra cadeia, imediatamente"
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Folha de S.Paulo – Ranier Bragon e Daniel Carvalho
Por
 uma diferença de apenas cinco votos o plenário da Câmara dos Deputados 
manteve na noite desta terça-feira (26) o foro privilegiado ao ministro 
Moreira Franco (Secretaria-Geral), denunciado pela Procuradoria-Geral da República ao lado de Michel Temer.
Apesar
 de a base governista ser amplamente majoritária na Casa, a decisão de 
manter o status de ministro a Moreira foi aprovada por 203 votos contra 
198. Outros 7 deputados se abstiveram.
Responsável
 por comandar a articulação política do governo, com Antonio Imbassahy, o
 PSDB liberou a sua bancada a votar como quisesse. Com isso, a maioria 
se posicionou contra o Planalto -19 a 11.
Os
 tucanos foram, ao lado do PV e do PSD, os únicos partidos governistas 
que não orientaram seus deputados a votar a favor de Moreira. O PSD 
chegou a mudar a sua orientação no final, em prol do ministro, mas no 
momento que todos os deputados já haviam votado.
Todas
 as legendas governistas registraram traição, inclusive o PMDB de Temer e
 Moreira -6 votos contra os interesses do Planalto.
O
 resultado é um péssimo sinal para Temer, cuja segunda denúncia da 
Procuradoria-Geral da República contra ele começou a tramitar na Câmara 
justamente nesta terça. Moreira é seu amigo, um de seus principais 
conselheiros e integra o principal núcleo do governo.
No
 PMDB, por exemplo, dos 5 deputados que votaram contra o Planalto nesta 
terça 5 apoiaram Temer na votação da primeira denúncia.
Segundo
 a atual denúncia do Ministério Público, Temer e Moreira integraram uma 
organização criminosa que recebeu ao menos R$ 587 milhões de propina nos
 últimos anos.
Com
 o risco de que Moreira ficasse sem foro e tivesse sua investigação 
enviada para a esfera de atuação do juiz Sergio Moro, Temer editou em 
maio a MP 782, que modifica a estrutura básica da Esplanada dos 
Ministérios.
A
 medida provisória, cujo texto-base havia sido aprovado mais cedo, é 
editada exclusivamente pelo presidente, tem força de lei e pode passar a
 valer na data de sua publicação. Ela precisa, no entanto, ser aprovada 
pelo Congresso Nacional em até 120 dias.
Aliado
 e conselheiro do presidente, Moreira também é padrasto da mulher do 
presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), que presidiu a sessão desta
 terça. Pelo cargo que ocupa, entretanto, Maia não vota nesse tipo de 
projeto.
Ele
 chegou a retardar o final da votação da emenda que pretendia retirar da
 MP a previsão de foro a Moreira, para tentar reunir um maior número de 
votos.
A maioria das manifestações em plenário foi crítica à medida.
"Essa
 MP é um escárnio", discursou o oposicionista Ivan Valente (PSOL-SP). 
"Nenhum deputado governista se inscreveu para defender essa medida. É um
 silêncio ensurdecedor. Ele [Moreira] sabe que se essa medida não for 
votada ele vai pra cadeia, imediatamente.
