Dilma e Lula durante comício em São Paulo, em 2014
Folha de S.Paulo – Letícia Casado, Camila Mattoso e Rubens Valente
A mulher do marqueteiro João Santana, Mônica Moura, que fez a campanha eleitoral de Dilma em 2010 e 2014, afirmou em vídeo gravado no acordo de delação premiada que
o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva queria ser o candidato à
Presidência em 2014, mas Dilma insistiu na reeleição. Mônica disse que
recebeu a informação de seu marido, Santana, que conversava com
frequência com Dilma. Segundo Mônica, naquele ano a relação entre Lula e
Dilma teve "um estremecimento".
Mônica
falou sobre a relação entre Lula e Dilma ao responder a uma pergunta
dos procuradores da República que queriam saber se Lula se envolveu nas
questões financeiras da campanha de 2014.
"Em
2014 o Lula não entrou em relação a dinheiro. Em 2014 houve um certo
estremecimento entre o Lula e Dilma, acho que isso é do conhecimento de
todos. Os jornais especulavam bastante na época, eles negavam, mas é
verdade, porque o Lula queria ser o candidato. E a Dilma não aceitou,
ela queria a reeleição dela. Ela se sentia forte. 'Por que eu não vou
aceitar?' Isso era conversa dela com o João, eu nunca tive esse tipo de
conversa com a Dilma, era coisa que o João me contava. Que o Lula queria
ser o candidato em 2014. Voltar, entendeu? Tipo assim, em 2010 ele sai,
bota a apadrinhada dele lá mas em 2014 ele volta para ser o candidato. E
aí houve um certo estremecimento. Ele ia lá na produtora da gente de
vez em quando gravar, dar apoio para ela, também não ia colocar em risco
também a eleição dela. Mas não se envolveu com dinheiro dessa vez, não.
Foi totalmente com a Dilma, tudo com a Dilma, falei com ela todas as
vezes", disse Mônica.
No mesmo depoimento, a mulher de João Santana contou que o casal usava apelidos para se referir a autoridades do governo.
O ex-presidente Lula era o "Pavarotti" ou "Pava", em referência ao
cantor de ópera Luciano Pavarotti (1935-2007). "A gente achava, uma
época que ele ficou muito gordo, e com barba, ele parecia com o
Pavarotti. Era Pava ou Pavarotti, tenho vários telefones anotados como
Pava", disse Monica.
Dilma Rousseff era identificada como "Tia" e o então ministro da Fazenda, Guido Mantega, era o "Laticínio".
Dilma Rousseff era identificada como "Tia" e o então ministro da Fazenda, Guido Mantega, era o "Laticínio".
"A
gente inventava apelidos para algumas pessoas para não anotar, como eu
disse, não ficar anotando nomes deles em agenda, como 'Guido Mantega:
reunião'. Por que que eu ia ter reunião com Guido Mantega? Não tinha
nenhum sentido", disse Mônica.