quarta-feira, 31 de maio de 2017

Chuva: morte, briga por comida e alagamentos no NE




Folha de S. Paulo - Katia Vasco eJoão Pedro Pitombo

A água já estava na altura da cintura, mas a aposentada Natalícia Maria Alves, 55, não desistia. Conforme a água subia, eletrodomésticos e objetos de sua casa iam sendo colocados sobre móveis. Terminou a noite sem energia, sobre uma mesa, esperando clarear o novo dia.
As chuvas que atingiram Marechal Deodoro (AL) nos últimos dias deixaram, além dela, outros 3.735 desabrigadas ou desalojados, segundo o Estado, e 29.970 afetados diretamente pela inundação, de acordo com o município.
Moradora de uma casa no sítio histórico da cidade alagoana, Natalícia não pode, agora, fazer nenhuma mudança no imóvel, como repintá-lo, sem aval do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional).
"Perdi cama, guarda-roupa, colchão, roupas. Só salvamos fogão e geladeira. A gente ganhou colchão e vai levando até recuperar o que perdeu. Pelo menos estamos com nossas vidas."
Kleyber Santana, da Defesa Civil, afirmou que a situação foi "sem precedentes". A preocupação é visível no semblante de todos, que vigiam o nível da água. Nos últimos dias, para acessar o centro histórico, era preciso usar barcos. Nesta terça (30), a situação já estava normalizada.
Wanderson da Silva Nogueira, 18, acordou às 5h com a água tomando a casa em que mora com a mãe e o padrasto. Ele disse ter deixado os dois num lugar seguro e voltou para ajudar quem precisava.
Segundo o secretário da Infraestrutura, Diogo Maciel Lopes, não houve mortos ou feridos. Ele constatou que não houve alagamento nos prédios históricos ocupados pelo governo, como o palácio que foi uma das residências de Marechal Deodoro, primeiro presidente do país.
As enchentes em Alagoas e Pernambuco resultaram em prejuízos para as famílias, saques em lojas e até disputa por comida estragada descartada por um supermercado.
Ao todo, são 51 cidades em estado de emergência nos dois Estados e cerca de 69 mil desalojados (na casa de amigos ou parentes) ou desabrigados (em abrigos improvisados).
Foram confirmadas as mortes de dez pessoas, sete em Alagoas e três em Pernambuco, vítimas de desabamentos, deslizamentos de terra e afogamentos.
Entre os mortos estão quatro da mesma família –um casal e seus dois filhos, um menino de 3 anos e uma menina de 7 meses. Os corpos foram soterrados após um deslizamento na periferia de Maceió. Outra pessoa da família continua desaparecida.
Já em Pernambuco, o corpo de um homem foi encontrado nesta terça-feira (30) nas margens do rio Ipojuca, em Caruaru, fazendo subir para três o número de mortos com as chuvas no Estado. Uma mulher segue desaparecida, também em Caruaru.
Os níveis dos rios que transbordaram e inundaram Marechal Deodoro e cidades como Pilar (AL), Barreiros (PE) e Rio Formoso (PE), começaram a baixar, revelando os estragos em equipamentos públicos e prejuízos para as famílias.
A escassez de água potável e alimentos após as chuvas fez com que famílias disputassem sacos de comida cobertos de lama descartados por um supermercado em Palmares (PE). A loja descartou produtos estragados pela enchente na segunda-feira (29), atraindo dezenas de pessoas, apartadas pela PM.
SUL
As chuvas dos últimos dias também causaram transtornos em parte do Rio Grande do Sul. Seis cidades decretaram estado de emergência. As chuvas causaram danos em 56 cidades, com 1.889 desalojados e 495 desabrigados.