quarta-feira, 8 de março de 2017

Corrupção tipo exportação




O executivo Hilberto Mascarenhas (foto) contou ao TSE que o departamento de propinas da Odebrecht movimentou US$ 3,39 bilhões. Pelo câmbio atual, a bolada ultrapassa a cifra de R$ 10,5 bilhões.
De acordo com o delator, uma fatia de 15% a 20% do total abasteceu o caixa dois de campanhas eleitorais no Brasil. O resto foi para o bolso de políticos com quem a empreiteira fez negócios no exterior.
No ano passado, o Departamento de Justiça dos EUA já havia identificado 11 países em que a construtora brasileira pagou propina. Por ordem alfabética: Angola, Argentina, Colômbia, Equador, Guatemala, México, Moçambique, Panamá, Peru, República Dominicana e Venezuela.
O relatório deu origem a uma série de investigações nos moldes da Lava Jato. Em lugares como o Peru, a Odebrecht passou a dominar o debate político. A Justiça local decretou a prisão de um ex-presidente acusado de envolvimento no escândalo.
A novidade da delação de Mascarenhas é numérica. Os americanos estimaram o total movimentado em US$ 599 milhões (R$ 1,8 bilhão). Agora se sabe que isso era um trocado diante da dimensão real do esquema.
As apurações no exterior têm apontado uma prática semelhante à desvendada no Brasil. A empresa oferecia vantagens para ganhar licitações e superfaturar obras. Em troca, bancava campanhas ou simplesmente ajudava políticos a enriquecer.

No passado, a engenharia brasileira se ufanou de megaprojetos como Itaipu, que consumiu concreto suficiente para erguer 210 Maracanãs. Hoje, resta comemorar o porte do nosso propinoduto tipo exportação.
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O presidente Michel Temer declarou que quem reclama da reforma da Previdência é "quem ganha mais". Em janeiro, o procurador aposentado Michel Temer recebeu R$ 45 mil brutos (R$ 22 mil líquidos) dos cofres públicos de São Paulo. Não consta que tenha reclamado.