quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

Sonho de Serra era assumir pasta da Fazenda



Josias de Souza

O Ministério das Relações Exteriores era o Plano B de José Serra. O tucano deixou o governo sem conseguir realizar o seu Plano A: a transferência para a pasta da Fazenda. O projeto político de Serra era repetir a trajetória de Fernando Henrique Cardoso, que saltou da chefia da área econômica, no governo-tampão de Itamar Franco, para a Presidência da República, onde se manteve por dois mandatos.
Serra foi traído pela coluna cervical num instante em que Henrique Meirelles, o ocupante da poltrona que ele ambicionava, celebra a melhoria dos indicadores econômicos. A inflação e os juros caem. O PIB e a arrecadação do Tesouro sobem.
Num encontro com Temer e deputados, na véspera, Meirelles dissera que o país começava a virar a página da recessão. Quer dizer: o Plano A de Serra tornara-se um sonho longínquo. Para complicar, as dores na coluna haviam transformado a espera no Itamaraty numa experiência lancinante.
A saída de Serra surpreendeu Temer e o tucanato. Todos sabiam de suas complicações médicas. Ninguém ignorava que a cirurgia a que ele se submetera no final do ano passado, no Hospital Sírio-Libanês, não o livrara das dores. Mas Serra não sinalizara a intenção de sair. Ao contrário, dissera dias atrás a um correligionário que abandonara a cogitação de se demitir. A despeito do mal-estar físico, ficaria na Esplanada.
Na conversa com Temer, na noite desta quarta, Serra exibiu, além da carta de demissão, laudos médicos que atestam o seu drama. O ministro tucano Antonio Imbassahy, coordenador político do governo, também estava no Planalto na noite desta quarta. Testemunhou parte da conversa. Contou ao blog que Serra reassume a cadeira de senador já nesta quinta-feira.