Bem na economia, mal na política
O presidente interino Michel Temer (PMDB) tem acertado na economia e
infelizmente errado brutalmente no varejo da política. Quando demitiu o
ministro Romero Jucá não poderia ter escolhido um substituto, mesmo
interinamente, enrolado na operação Zelotes. Temer tem que lembrar que
foi colocado no posto com o auxílio de ruas apinhadas de gente que, a um
só tempo, repudiava a corrupção do PT e apoiava a Lava Jato, alçando o
juiz Sérgio Moro à condição de herói nacional.
Temer, além de ter ministros envolvidos em esquemas fraudulentos, ao
contrário do que sinalizou para um time de notáveis, vem abrindo portas
para a influência do presidente afastado da Câmara dos Deputados,
Eduardo Cunha. Esse comportamento se soma às confusões em que ministros
falavam besteiras para logo voltar atrás e um ministério ser extinto e
recriado, o que produz desconfiança e gera um clima de instabilidade.
As gravações de Romero Jucá e Renan Calheiros, que tomam agora o
noticiário, não são má notícia para Temer apenas porque perdeu um
ministro importante degolado pela Lava Jato. São má notícia porque
sugerem que sua ascensão ao Palácio do Planalto decorreu de uma
conspiração para barrar a Lava Jato. O mais grave é que Jucá fala isso
com muita clareza nas gravações.
Quem está sendo favorecido é o PT, que já anda empolgado para retomar
a tese de que Dilma foi vitima de um “golpe”. Os diálogos que vieram a
público mostram, porém, que Dilma não foi apeada do poder porque lutava
para defender a Lava Jato, mas porque não conseguia sabotá-la, apesar
das inúmeras tentativas.
Se o roteiro foi esse mesmo, sempre haverá quem pense que a missão de
Temer é fazer o que Dilma não conseguiu. Com essa dúvida, fica muito
mais difícil para o presidente interino ganhar a confiança dos
brasileiros, entre os quais 58%, de acordo com a última pesquisa, não
gostariam de tê-lo na Presidência da República.
Até agora não apareceu nada que compromete Temer na Lava Jato nem que
sinalize que queira melar as suas investigações, mas ele tem que adotar
uma postura mais firme, para reafirmar sua autoridade. Ainda está
devendo uma postura mais assertiva e menos dúbia no que se refere ao seu
compromisso com as investigações contra a corrupção.
BARRAR INVESTIGAÇÕES– Os diálogos que vieram à tona
envolvendo políticos do PMDB, partido do presidente interino, mostram
claramente que eles estão empenhados em barrar as investigações, ao
contrário do que dizem em público. Esse cenário é um complicador e tanto
para Michel Temer, pois se trata de um convite à desarticulação de sua
base aliada no Congresso. Fica claro também que os aliados de Temer
estão, como os petistas, desesperados com o avanço das investigações,
temendo o implacável e justo Sérgio Moro.