sexta-feira, 6 de maio de 2016

Impeachment sem relação com Cunha


  
O afastamento do deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) das funções de presidente da Câmara dos Deputados, por decisão monocrática do ministro Teori Zavascki e confirmada ontem mesmo pelo plenário do Supremo Tribunal Federal, foi comemorado e interpretado por parlamentares governistas como uma janela aberta para uma possível anulação do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff.
Mas se trata apenas de uma mera euforia, um sonho de verão. Uma coisa não tem nada a ver com outra. Não foi Cunha, sozinho, que aprovou o impeachment. Foram 367 deputados e o Governo em nenhum momento questionou judicialmente a decisão soberana da Câmara dos Deputados. Tudo transcorreu de forma transparente, obedecendo todas as regras em vigor e seguindo o rito estabelecido pelo Supremo.
A decisão do ministro Teori se sustenta em cima de 11 situações que comprovariam o uso do cargo pelo deputado para "constranger, intimidar parlamentares, réus, colaboradores, advogados e agentes públicos com o objetivo de embaraçar e retardar investigações". Um dos argumentos de Teori é que a permanência de Cunha à frente da Câmara representaria um "risco para as investigações penais" pelas quais é acusado no Supremo Tribunal Federal.
Entre os 11 itens relacionados, portanto, nada com o impeachment. Os governistas, que não conseguiram convencer com o discurso de golpe, compreendem a decisão, mas fazem questão de confundir. Sapateiam, berram, protestam e esperneiam mesmo conscientes de que a derrocada de Cunha se dá pelo conjunto da sua obra criminal e não política.
O advogado-geral da União, ministro José Eduardo Cardozo, afirmou que vai pedir ao STF a anulação do processo de impeachment com base na saída temporária de Cunha. O jurista e professor de direito constitucional da PUC-SP (Pontifícia Universidade Católica) Marcelo Figueiredo afirmou que não há impacto nem relação de uma coisa com a outra, conforme escrevi acima.
"Não existe nenhuma ligação, tanto que o processo já está tramitando no Senado, independentemente do futuro do deputado Cunha. Em tese, uma coisa não afeta a outra, mas é claro que o governo vai tentar utilizar isso como um argumento de defesa, sem chances, entretanto, de prosperar”, disse Figueiredo.
RISCO ÀS INVESTIGAÇÕES – Para o ministro Teori Zavascki, que decidiu pelo afastamento de Eduardo Cunha da Presidência da Câmara, havia "ponderáveis elementos indiciários" a apontar que Cunha "articulou uma rede de obstrução" às investigações. "Além de representar risco para as investigações penais sediadas neste Supremo Tribunal Federal, [a permanência de Cunha] é um pejorativo que conspira contra a própria dignidade da instituição por ele liderada", escreveu ele.