Carlos Chagas
Supondo-se
que 200 políticos integrem o Departamento de Propinas da Odbrech, não
seria preferível que os encarregados da investigação divulgassem logo
seus nomes e os respectivos benefícios oferecidos a cada um? É
princípio salutar de Direito que o ônus da prova cabe a quem acusa, mas
se foi a própria empresa que resolveu expor suas entranhas, liberando
as listas para a Polícia Federal e o Ministério Público, nada mais
salutar do que estes divulgarem a relação completa em vez de ficar dia
a dia criando suspense. Soltem logo a relação dos corruptos, com a
cautela de esclarecer que ela foi distribuída pelos corruptores.
Quanto cada um recebeu? Quantas vezes? Em que períodos?
Continuando
essa novela sendo apresentada aos capítulos e supondo-se que muitos dos
200 receberam propinas na forma de doações legítimas, de acordo com a
lei, melhor seria permitir que todos se defendessem. Até agora
estabeleceu-se um denominador comum pautado pelas falcatruas, quando se
sabe que nem todos atravessaram a linha tênue do ilícito.
Para
começar, deveriam ser expostos todos os nomes dos dirigentes da
Odebrecht envolvidos nas operações. Não apenas os que autorizaram a
distribuição de recursos, sua origem e a forma de como viabilizaram as
doações, como também os critérios para a escolha dos favorecidos.
Seria um alívio até para os culpados, como meio de livrar a
consciência dos inocentes. A partir daí funcionariam o direito de
defesa e a respectiva atuação dos defensores do poder público.
Verifica-se
na população o anseio de saber quais políticos se envolveram nas
lambanças. Referir que foram 200, sem particularizá-los, não é justiça,
mas sua distorção. Podem ter sido menos. Ou mais.
Ao
mesmo tempo, abre-se outra dúvida: quem vai julgar o juiz? Na multidão
de investigadores, policiais, procuradores e carcereiros, quantos
participam de desvios, distorções e acobertamentos? Onde se
localizará o Departamento dos Coniventes?
Uma
evidência não pode ser omitida: também há bandidos do outro lado.
Identificá-los é tão necessário quanto apontar os beneficiados pela
roubalheira. Esticar sua culpa parece tão criminoso quanto cultivar a
leniência.
Em suma, perde-se tempo. Enrola-se o processo de apuração, sabe-se lá em nome de que objetivos. Aliás, sabemos muito bem.