quinta-feira, 5 de março de 2015

AZEDOU O CLIMA ENTRE O PRESIDENTE DO SENADO E A PRESIDENTE DILMA



   
Brasília vive uma terrível crise, de natureza política e moral. Entrando para o terceiro mês do seu segundo mandato, a presidente Dilma não governa, está acuada, tem uma equipe amadora no comando da política. Nem a liberação da “lista de Janot”, que não tem ainda os nomes por causa do segredo de justiça, trouxe o alívio político.
A impressão é que serviu para agravar ainda mais a crise. Achando que seu nome apareceu na lista por arte do “fogo amigo”, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), teve um chilique, manifestado no gesto de devolver a chamada MP da Desoneração, que aumenta a carga tributária das empresas.
Para quem esteve com Renan, ele quis mandar o seguinte recado: se a presidente acha que poderá escapar de danos do escândalo Lava Jato, transferindo parte do desgaste para o Congresso, o tiro por sair pela culatra, porque o PMDB, o mais atingido, pode reforçar a oposição ao governo.
Segundo maior partido da base, o PMDB foi atingido mortalmente, com a inclusão dos dois dirigentes das Casas Legislativas: Eduardo Cunha (PMDB-RJ), da Câmara, e Renan, do Senado. Há quem diga que os oposicionistas têm interesse em enfraquecer Dilma com a intenção de minar uma eventual candidatura de Lula em 2018.
Isso ficou muito claro com o entusiasmo juvenil em cima da decisão de Renan. Até então um aliado poderoso, o presidente do Senado se afasta do Governo em consequência dos efeitos da lista Janot. Mas diz que o senador já estava contrariado com o governo por outras questões, como o poder sobre o Ministério do Turismo e a relação ruim com o ministro Aloizio Mercadante (Casa Civil).
Como não houve uma divulgação oficial dos nomes da lista de Janot, que traz 54 políticos e o pedido de abertura de inquérito para investigar 28 do total, não dá ainda para medir a dimensão exata do efeito político. Pedidos de abertura de inquérito significam que o procurador-geral da República quer investigar mais.
Assim, Janot vê fragilidade no trabalho feito pelo juiz Sérgio Moro e os investigadores em Curitiba e avalia como necessário ter mais material para solicitar abertura de processos. A partir de agora, os nomes da lista serão mais investigados e poderão responder a uma futura ação penal.
Todos têm direito de defesa e não podem ser considerados culpados. Mas o aperitivo da lista que já vazou mostra potencial de agravamento da crise do ponto de vista político, porque pode tirar o PMDB da base do Governo, potencializando a oposição, que anda mais animada.
A reação do Renan e eventuais atitudes duras futuras de outros citados na lista têm de ser vistas como tentativas de salvar a própria pele usando o poder que possuem em suas mãos. Isso está sendo interpretado como chantagem política, para não classificar de abuso.
Afinal, Dilma não controla o procurador-geral da República nem o Supremo Tribunal Federal. A Polícia Federal tem agido com liberdade. O próprio senador Renan falou em independência de poderes ao rejeitar a MP da Desoneração. Por essa independência, Dilma não teria o que fazer em relação a Janot e ao STF.
DIFICULDADES– Cresceu a dificuldade para o governo aprovar medidas econômicas no Congresso na tentativa de recuperar a economia. A presidente já transformou em projeto de lei a MP rejeitada por Renan e pede para ser avaliado em regime de urgência urgentíssima, repetindo o teor da MP da Desoneração. Mas isso não mudou um milímetro a resistência ao contrário da sua própria base, incluindo o próprio PT.