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Ao
contrário de 2010, quando fez questão de ouvir o padrinho político
durante a montagem do governo, a presidente Dilma Rousseff tem dado
pouco espaço para os pitacos do antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva,
ao escolher os ministros que vão acompanhá-la no segundo mandato, a
partir de 1° de janeiro de 2015. Nesta sexta-feira (26), esperava-se que
o governo confirmasse mais nomes do PT que vão compor a equipe
ministerial, mas o anúncio foi adiado para a próxima semana.
Dilma consultou o ex-presidente em
novembro, e depois não pediu mais opiniões. Na época, Lula foi
parcialmente atendido. Emplacou Nelson Barbosa no Ministério do
Planejamento, mas teve de engolir a escolha de Joaquim Levy para
comandar a Fazenda.
O resultado é a redução do número de
ministros ligados a Lula no segundo mandato. A lista inclui Gilberto
Carvalho (Secretaria-Geral), Miriam Belchior (Planejamento) e Celso
Amorim (Defesa), entre outros.
Na terça (23), quando foram anunciados
13 novos ministros, o único petista a aparecer na lista foi Jaques
Wagner na Defesa. Esperava-se a confirmação de outros nomes, como
Aloizio Mercadante na Casa Civil e José Eduardo Cardozo na Justiça, e o
deslocamento de atuais ministros para outras pastas, como Ricardo
Berzoini (de Relações Institucionais para Comunicações) e Miguel
Rossetto (do Desenvolvimento Agrário para a Secretaria-Geral). Nada
disso aconteceu. Faltam ser indicados 22 dos 39 ministros.
Lula e Dilma construíram uma espécie de
acordo tácito para manter a relação com um mínimo de atritos. A base do
acordo é: Lula só opina quando Dilma consulta. Como Dilma não tem
consultado, Lula não tem opinado.
Os dois se encontraram três vezes depois
da eleição. Em duas ocasiões, ainda em novembro, tiveram longas
conversas sobre governabilidade e a montagem da equipe econômica. O
terceiro encontro foi no dia da diplomação de Dilma, quando a presidente
e o antecessor conversaram rapidamente antes da solenidade, na sede do
Tribunal Superior Eleitoral (TSE).
Influência
Dilma estava acompanhada de Mercadante,
apontado como responsável pelo “baixo perfil” dos nomes anunciados até
agora, principalmente na área política.
O sonho do PT era ter Mercadante na Casa
Civil, Berzoini em Relações Institucionais e Wagner na
Secretaria-Geral. Dilma optou por trocar a pasta de Berzoini e escalar
os gaúchos Rossetto e Pepe Vargas para as cadeiras próximas de seu
gabinete no Planalto.
Petistas avaliam que essa opção tem
influência de Mercadante, que quer concorrer à Presidência em 2018 e
manobrou para evitar a concorrência de Wagner, outro nome com potencial
de candidato, na “cozinha” do governo.
Testemunhas dizem que Lula ficou
profundamente contrariado ao saber que Berzoini seria remanejado para
dar espaço ao deputado gaúcho. As manifestações do ex-presidente
limitaram-se a interlocutores e não chegaram a Dilma.
Estilo
O estilo Dilma e o protagonismo de
Mercadante também têm incomodado o PT. Integrantes da corrente
majoritária Construindo um Novo Brasil (CNB) se queixam que a Mensagem
ganhou mais espaço no ministério ao emplacar Vargas e manter Rossetto e
Cardozo em pastas de prestígio.
“Recebi mensagens de militantes
manifestando preocupação com a representatividade do equilíbrio interno
de forças do PT na montagem do ministério”, disse Francisco Rocha, o Rochinha, coordenador da CNB.
Dirigentes petistas também reclamam da
falta de diálogo com Dilma. A presidente chegou a pedir ajuda a alguns
deles para sondar nomes, mas não deu mais satisfações ao partido.
(fonte: Estadão/foto: Clayton de Souza/Estadão)