quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Santuários eleitorais do Bolsa Família



NOVA REDENÇÃO (BA) – Maior votação proporcional da presidente Dilma na Bahia e oitava no País, a pequena Nova Redenção, a 435 km de Salvador, já na Chapada Diamantina, sofre de uma anomalia na gestão do Bolsa Família. De tão pobre, a quarta cidadela mais miserável do País perdeu a sua única casa lotérica, onde as 1.471 famílias sacavam os seus benefícios mês a mês.
Com isso, restou para os beneficiários, um terço da população, a alternativa de viajar 136 km até Itaberaba, para não ficar sem receber a ajuda da União, pagando R$ 34,00 correspondente aos custos de transportes. Para uma família que embolsa apenas R$ 72,00, vai embora na prática quase metade do benefício.
Isso abriu a janela para uma grave ilegalidade: moto boys passaram a “representar” um conjunto de famílias em agências bancárias não apenas de Itaberaba, mas de outras cidades próximas a Nova Redenção, como Andaraí, Itaitê e Saúde. Eliton Silva de Oliveira, o “Kinha”, um dos contemplados com um cartão de R$ 190, cobra entre R$ 6 e R$ 10 de cada bolsista para efetuar o saque em nome deles, de quem recebe as referidas senhas.

O motoqueiro Kinha virou agente representante dos bolsistas de Nova Redenção depois que o município perdeu sua casa lotérica.
Como são muitos que recorrem a esta prática, “Kinha” faz a cola da senha do usuário no próprio cartão. Procurado pela reportagem, o “agente” dos portadores de cartão do Bolsa Família em Nova Redenção confirmou que já vem atuando no ramo há mais de dois anos, desde que a casa lotérica fechou.
“Eu atendo muita gente, praticamente o mês inteiro, pois o benefício sai do dia 8 até o dia 30”, disse, adiantando que embolsa por mês em torno de R$ 1,5 mil, entre o que arrecada como motoqueiro e o serviço extra de “agente”, além dos R$ 190 como bolsista. Mas Kinha não está sozinho no ramo.
“A concorrência já foi aberta”, diz, referindo-se a Lôla, igualmente motoqueiro, que está agenciando o saque dos bolsistas. No momento em que a reportagem encontrou Kinha ele estava de posse da cópia de identidade e do cartão de um beneficiário. “Agora mesmo, peguei este cartão”, apontou, exibindo também a xerox da identidade.
Para ele, se há ilegalidade neste novo meio de sobrevivência em Nova Redenção a culpa é do Governo. “Enquanto não reabrirem a lotérica, ninguém vai gastar com passagem metade do que ganha para sacar a ajuda”, afirmou.
Dona Francisca Silva diz que recorre aos serviços de “Kinha” para economizar. “Se eu fosse até Itaberaba teria que gastar R$ 34 ao todo, R$ 17 de ida mais R$ 17 de volta. Recorrendo ao nosso representante, que é da nossa confiança e por isso dou a senha a ele, só gasto R$ 10”, afirmou.

Tácio Rodrigues, gestor do Bolsa Família, admite que existem 15 concursados recebendo a bolsa e diz que o Governo já foi informado dos problemas provocados pelo fechamento da lotérica.
Gestor municipal do Bolsa Família, Tácio Rodrigues disse que a prática configura crime e que Prefeitura já comunicou ao Ministério do Desenvolvimento Social o que vem ocorrendo em Nova Redenção, mas nenhuma providência até agora foi tomada. “Aqui, também tem outra prática ilegal, que é o recolhimento do cartão com a exigência da senha por parte dos comerciantes locais”, assinalou.
As 1.471 famílias beneficiárias do Bolsa Família em Nova redenção foram responsáveis pelo repasse de R$ 330.074.00 no mês passado, valor que se aproxima do FPM – o Fundo de Participação dos Municípios. Neste mesmo mês, o município recebeu pouco mais de R$ 400 mil, quantia que não dá sequer para cobrir as despesas com pessoal da ativa e os aposentados. A média transferida pelo Bolsa Família por beneficiário chega a R$ 224,39, dinheiro que praticamente alimenta o pequeno comércio da cidade.
Foi esta força do programa que fez a presidente Dilma ganhar a eleição na Bahia em 416 dos 417 municípios e que levou a prefeita de Nova Redenção, em agradecimento numa fala em um ato na campanha do segundo turno, a pronunciar esta fase antológica: “Obrigada, Dilma, pelo Bolsa Família, pelo mais Médicos e pelos programas sociais”.
O programa Mais Médicos, um dos cartões de apresentação do Governo, foi recebido com festa em Nova Redenção. Sem médicos e dependendo de assistência em Andaraí, que fica a 70 km, e em Itaberaba, mais distante ainda, a 136 km, sendo os casos mais graves removidos para Feira de Santana, que já fica a mais de 300 km, a cidade ganhou três médicos cubanos, que cativaram a população com simpatia e no modo de tratar os pacientes.
(Fonte: Magno Martins)