É
grande o pânico no mundo político. O doleiro Alberto Youssef resolveu
aceitar a proposta de delação premiada. O advogado Antônio Carlos de
Almeida Castro, o notório Kakay, que adora um cliente complicado,
anunciou ter deixado o caso porque se opõe à decisão. Ainda que
quisesse, não teria como permanecer, não é mesmo? A chance de o doleiro
implicar outros, digamos, nomes de sua carteira de defesas é imensa.
Como todo
mundo já sabe, os benefícios da delação só são realmente concedidos se
aquele que faz o acordo contribuir efetivamente para desvendar a ação
criminosa. Assim, se Youssef quer mesmo se livrar de muitos anos de
cana, terá de colaborar de verdade. Até onde pode ir? É o que se
perguntam todos aqueles que fizeram negócios com ele — muitas cabeças
coroadas da República. Há gente disputando governo de Estado por aí que,
a esta altura, deve estar com medo de ir parar na cadeia.
Se Paulo
Roberto Costa produziu um bom tremor de terra ao falar, Youssef, se
quiser, causa um verdadeiro terremoto. A desenvoltura com que ele se
infiltrou — ou foi infiltrado — no estado brasileiro é assombrosa. O
caso do laboratório de fachada Lobogen ilustra a bandalheira. Uma
empresa que se dedicava à lavagem de dinheiro, apontam a Polícia Federal
e o Ministério Público, tinha celebrado um convênio com o Ministério da
Saúde para a produção de remédios.
É a
segunda vez que Youssef faz um acordo dessa natureza. O outro estava
relacionado ao escândalo do Banestado. Ele colaborou, pagou uma multa e
se livrou da cana. Mas voltou a delinquir e perdeu aquele benefício,
razão por que acabou condenado a mais de quatro anos de cadeia.
Sem a
delação, Youssef certamente ficaria muitos anos na cadeia. Se ela
colaborar para elucidar e desmontar uma quadrilha que vive do assalto
aos cofres, tanto melhor.