No
pronunciamento que fez para comemorar o Dia do Trabalhador, a
presidente Dilma usou a prerrogativa de uma rede nacional de rádio e TV
para fazer campanha eleitoral. Num tom de quem estava em palanque,
anunciou 10% de reajuste para beneficiários do programa Bolsa Família
numa tentativa de estancar queda na sua popularidade num segmento que
perdeu gordura.
De
maneira indireta, ela pediu aos brasileiros que façam carga sobre o
Congresso para tirar reforma política do papel. O conteúdo da sua fala
foi formatado claramente para tentar estancar a queda da popularidade do
governo e a perda de apoio nas pesquisas de intenção de voto.
Dilma
foi informada por sua equipe que o caso de má governança e de suspeitas
de corrupção na Petrobras começou a corroer a imagem do governo. Por
essa razão, na sua fala a presidente admitiu que houvesse atos de
corrupção relacionados à estatal e prometeu apurar tudo, punindo os
responsáveis.
Aproveitou
para oferecer um aumento de 10% aos beneficiários do Bolsa Família, que
são cerca de 14 milhões de famílias, atingindo 36 milhões de
brasileiros. Para completar, antecipou o anúncio de uma correção na
tabela do Imposto de Renda, cujo efeito só virá, na prática, em 2015.
Também chamou a atenção o trecho em que ela tratou de reforma política.
“É
preciso agora, sobretudo, tornar realidade o pacto da reforma
política”, disse, lembrando que encaminhou ao Congresso “uma proposta de
consulta popular para que o povo brasileiro possa debater e participar
ativamente da reforma política”.
Nesse
trecho, Dilma apelou para uma ligação direta entre ela e os cidadãos,
para pressionar o Congresso. “Sempre estive convencida que sem a
participação popular não teremos a reforma política que o Brasil exige”,
declarou. E completou assim: “Além da ajuda do Congresso e do
Judiciário, preciso do apoio de cada um de vocês, trabalhador e
trabalhadora. Temos o principal: coragem e vontade política. E temos um
lado: o lado do povo. E quem está ao lado do povo pode até perder
algumas batalhas, mas sabe que no final colherá a vitória”.
Em
resumo, ainda que usando um certo bonapartismo oblíquo, Dilma pediu aos
brasileiros que façam carga sobre o Congresso para que seja realizada a
reforma política. De maneira indireta, ela coloca a culpa pelos
problemas do país num sujeito oculto e difuso –o sistema político– e
responsabiliza o Congresso por não avançar com essa reforma.
A
presidente foi à TV para dizer que está fazendo tudo certo, que está
dando 10% de aumento no programa Bolsa Família e que se as coisas não
andam é porque no Brasil falta uma reforma política e o Congresso não se
esforça. É uma tentativa quase que desesperada, o tudo ou nada, para
estancar sua queda nas pesquisas.
E OS APOSENTADOS?–
No discurso do Dia do Trabalho, a presidente desagradou um expressivo
segmento da sociedade que está há muito tempo a espera de um gesto do
seu Governo: os aposentados. “Deveria ter lembrado os milhões de
aposentados que já deram sua contribuição ao País e a sociedade e
continuam esquecidos”, diz o deputado Gonzaga Patriota. Segundo ele, a
presidente deveria reajustar também em 10 % as aposentadorias.