Neste domingo(04) em diversos jornais do país, o
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso diz que o Brasil chegou ao fundo
do poço da roubalheira. 'Eu, como boa parte dos leitores de jornal, nem
aguento mais ler as notícias que entremeiam política com corrupção. É
um sem-fim de escândalos', diz ele. Segundo o ex-presidente, isso se
deve ao que chama de 'presidencialismo de cooptacão'
'Eu
nunca entendi a razão pela qual o governo Lula fez questão de formar
uma maioria tão grande e pagou o preço do mensalão. Ou melhor, posso
entendê-la: é porque o PT tem vocação de hegemonia', afirma. FHC diz
ainda que é urgente aprovar uma reforma política para evitar novos
escândalos no futuro
NÃO AGUENTO MAIS
''Eu,
como boa parte dos leitores de jornal, nem aguento mais ler as notícias
que entremeiam política com corrupção. É um sem-fim de escândalos.
Algumas vezes, mesmo sem que haja indícios firmes, os nomes dos
políticos aparecem enlameados. Pior, de tantos casos com provas
veementes de envolvimento em “malfeitos”, basta citar alguém para que o
leitor se convença de imediato de sua culpabilidade. A sociedade já não
tem mais dúvidas: se há fumaça, há fogo, diz.
E
mais adiante diz FHC: ''Não escrevo isso para negar responsabilidade de
alguém especificamente, nem muito menos para amenizar eventuais culpas
dos que se envolveram em escândalos, nem tampouco para desacreditar de
antemão as denúncias. Os escândalos jorram em abundância, não dá para
tapar o sol com a peneira. O da Petrobras é o mais simbólico, dado o
apreço que todos temos pelo que a companhia fez para o Brasil. Escrevo
porque os escândalos que vêm aparecendo numa onda crescente são sintomas
de algo mais grave: é o próprio sistema político atual que está em
causa, notadamente suas práticas eleitorais e partidárias.
Nenhum
governo pode funcionar na normalidade quando atado a um sistema
político que permitiu a criação de mais de 30 partidos, dos quais 20 e
poucos com assento no Congresso. A criação, pelo governo atual, de 39
ministérios para atender as demandas dos partidos é prova disso e, ao
mesmo tempo, é garantia de insucesso administrativo e da conivência com
práticas de corrupção, apesar da resistência a essas práticas por alguns
membros do governo.
Não
quero atirar a primeira pedra, mesmo porque muitas já foram lançadas.
Não é de hoje que as coisas funcionam dessa maneira. Mas a contaminação
da vida político-administrativa foi se agravando até chegarmos ao ponto a
que chegamos. Se, no passado, nosso sistema de governo foi chamado de
“presidencialismo de coalizão”, agora ele é apenas um “presidencialismo
de cooptação”. Eu nunca entendi a razão pela qual o governo Lula fez
questão de formar uma maioria tão grande e pagou o preço do mensalão. Ou
melhor, posso entendê-la: é porque o PT tem vocação de hegemonia. Não
vê a política como um jogo de diversidade no qual as maiorias se compõem
para fins específicos, mas sem a pretensão de absorver a vida política
nacional sob um comando centralizado.
NO MEU GOVERNO
Meu
próprio governo precisou formar maiorias. Mas havia um objetivo
político claro: precisávamos de três quintos da Câmara e do Senado para
aprovar reformas constitucionais necessárias à modernização do país.
Ora, os governos que me sucederam não reformaram nada nem precisaram de
tal maioria para aprovar emendas constitucionais. Deixaram-se levar pela
dinâmica dos interesses partidários. Não só do partido hegemônico no
governo, o PT, nem dos maiores, como o PMDB, mas de qualquer agregação
de 20, 30 ou 40 parlamentares, às vezes menos, que, para participar da
“base de apoio”, organizam-se numa sigla e pleiteiam participação no
governo: um ministério, se possível; se não, uma diretoria de empresa
estatal ou uma repartição pública importante. Daí serem precisos 39
ministérios para dar cabida a tantos aderentes. No México do PRI,
dizia-se que fora do orçamento não havia salvação... (Do Portal BR 247)
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