Fogos na orla e por toda cidade celebram o final de ano, famílias unidas
ceiam juntas, champanhe, muita cerveja, flores no mar, promessas,
roupas brancas, eventos católicos, evangélicos, afros, e diversas outras
entidades com suas oferendas, são realizados para recepcionarem o Ano
Novo. Pule da cama com o pé direito, coma bastante, suba escadas, acenda
as luzes, aumente o som, grite bem alto Feliz Ano Novo!.
São muitos os rituais para a passagem de ano. Mas por que a gente repete
esses gestos todos os anos? E, mais ainda, eles de fato servem para
alguma coisa? Estudiosos acham que sim, os rituais são importantes e têm
sua função. Eles carregam o poder simbólico de abrir e fechar os ciclos
e esse poder é enorme. A cada ciclo que termina as pessoas sentem
necessidade de fazer um balanço de pontos positivos e negativos, dizem
estudiosos. Mas por que todo mundo precisa fazer o balanço ao mesmo
tempo, numa data convencionada? A passagem do tempo e os ciclos da
Natureza impressionaram mesmo nossos mais antigos ancestrais. E os
rituais de passagem têm servido desde sempre para pontuar esse ritmo
repetitivo que os homens observavam em tudo à sua volta. Os rituais de
passagem de ano respondem às necessidades básicas dos antepassados, e
podem gerar bem estar. A marcação do tempo existe desde os primórdios da
humanidade porque dá aos homens uma sensação de controle sobre o
próprio destino. Acrescenta-se também outro ingrediente fundamental para
o bem estar psíquico do ser humano: a necessidade de esperança.
O ano novo traz consigo a possibilidade de reorganizar a vida, consertar
erros, fazer coisas diferentes, essa promessa do ‘novo’ é fundamental
para o bem-estar e para a saúde mental. Os rituais servem justamente
para expressar essa tentativa de controlar o destino e dar corpo e voz à
esperança. “Não basta dizer que acabou um ano e começa outro, é preciso
marcar, dar uma forma concreta a essa convicção. Em geral, os rituais
ligados à água são muito fortes” Um exemplo são as oferendas para
Iemanjá que povoam a costa brasileira na noite de Ano Novo. São feitos
por pessoas de todos os credos, porque a simbologia da água está ligada a
renovação, à Grande-Mãe, portanto ao amor e à felicidade.
Em francês, a palavra ‘réveillon’ remete a vigília, ao ato de estar
acordado. Se você vai receber o novo, tem que estar acordado para
recebê-lo quando chegar. Assim como precisa estar acordado para se
livrar' do ano-velho. É a chance de fazer um desejo, um voto. E para
ajudar a espantar o mal e atrair o bem, fogos de artifício! O barulho
tradicionalmente espanta os maus espíritos e os fogos colorindo o céu
passam a ideia de comunicação com os deuses. As velas acesas pela casa
também guardam esse sentido de ligação com o transcendental, são
tradicionais veículos de elevação espiritual. O que se come também é
extremamente importante: as comidas que atrai boa-sorte no Ano Novo
representam fartura e prosperidade. O elemento simbólico que aparece
sempre forma associações na nossa mente. Não comer aves que ciscam para
trás é uma analogia que remete à ideia de não regredir na vida. Outro
clássico é a romã, associada há séculos à fertilidade e à prosperidade,
provavelmente em função das centenas de sementes rubras que compõe a
polpa da fruta. No fundo, o importante é o desejo de atrair bons votos
para o ano que está chegando. As adaptações são inúmeras, mas todas as
culturas celebram essa passagem de um ano para outro, de um ciclo para
outro e todas inventam suas formas próprias de desejar a todos um bom
novo. (Por Valterlino Pimentel)