por Julia Lindner, Renan Truffi e Daiene Cardoso | Estadão Conteúdo
Foto: Fabio Rodrigues Pozzebom/ Agência Brasil
O deputado Osmar Serraglio (PP-PR) afirmou na última terça-feira
(17), no plenário da Câmara, que sofreu pressões dos senadores Aécio
Neves (PSDB-MG) e Renan Calheiros (MDB-AL) quando era ministro da
Justiça. O discurso ocorreu durante julgamento do caso de Aécio no
Supremo Tribunal Federal (STF) que o tornou réu por corrupção passiva e
obstrução de justiça. Nesta sexta-feira (20,) ao ser questionada, a
assessoria de imprensa de Serraglio reiterou a acusação. Serraglio diz
que trechos das gravações telefônicas entre Aécio e Joesley Batista,
dono da JBS, deixam claro que ele se recusou a ceder às pressões do
senador mineiro que tinha objetivo emplacar um novo delegado da Polícia
Federal de sua preferência. No diálogo, o senador mineiro aparece
chamando Serraglio de um "bosta do c****". Ele falou para Joesley que
estava insatisfeito com Serraglio porque, de acordo com o senador, ele
não controlava a PF e a Operação Lava Jato. A partir dessas conversas e
de depoimentos da delação de executivos do grupo J&F, o STF aceitou a
denúncia contra Aécio esta semana. "Pressões semelhantes advieram do
Senador Renan Calheiros, ex-Presidente do Congresso Nacional,
multi-investigado pela Polícia Federal", continuou o deputado em
plenário. Segundo Serraglio, as pressões sofridas foram algumas das
razões que "instabilizaram" sua permanência na Pasta. Ele foi demitido
do Ministério da Justiça no ano passado em meio aos rumores de que
poderia ser citado em delação premiada da Operação Carne Fraca. Em nota,
Renan disse que "não se prestaria a falar" com Serraglio. "Pelo
contrário... virei oposição ao governo Temer justamente quando ele
assumiu o ministério indicado, e teleguiado, pelo Eduardo Cunha. Quem
conhece minimamente a política sabe que eu jamais me relacionei com esse
grupo. Pelo visto, esse Osmar continua com a carne fraca", disse Renan.
Desde a indicação de Serraglio como ministro da Justiça, Renan fez
diversas críticas sobre uma suposta atuação de Eduardo Cunha (MDB-RJ) no
governo mesmo após ter sido preso pela Operação Lava Jato. Segundo
Renan, Serraglio seria um dos aliados do ex-presidente da Câmara. Já a
defesa do senador Aécio afirmou que ele "jamais" tentou interferir na
nomeação de delegados para a condução de qualquer inquérito. "Essa
questão é afeita exclusivamente à PF, que não se submete a esse tipo de
ingerência", justificou. O advogado do tucano, Alberto Zacharias Toron,
defendeu que todas as conversas que Aécio teve sobre o tema foram "no
sentido de mostrar seu inconformismo com inquéritos abertos sem qualquer
base fática, em especial, com a demora em serem concluídos, levando a
um inevitável desgaste". Além disso, o advogado afirma que o senador
mineiro procurou Osmar Serraglio para desculpar-se sobre "termos
inadequados utilizados para referir-se" ao então ministro da Justiça.
"Com relação aos termos inadequados utilizados para referir-se ao então
ministro, em conversa privada criminosamente gravada pelo Sr Joesley
Batista, o senador telefonou diretamente a ele àépoca, desculpando-se
pelas expressões utilizadas", afirmou o comunicado. A defesa de Aécio
reafirma "não ter havido nenhuma atitude imprópria de sua parte e
lamenta que isso possa ter sido entendido de forma diversa".