Bruno Boghossian – Folha de S.Paulo
Em busca de protagonismo, petistas reduzem opções para a eleição presidencial
A declaração do ex-presidente Lula em sua entrevista à Folha mostra
a dimensão do abismo que se abriu entre a cúpula petista e a
candidatura de Ciro Gomes (PDT) para a próxima corrida eleitoral.
Dirigentes do partido até viam com simpatia a possibilidade de apoiá-lo
já no primeiro turno, mas sob a condição de que a defesa do PT tivesse
papel central na campanha —algo que o ex-ministro de Lula não está
disposto a conceder.
Enfraquecidos pelo provável afastamento
de seu principal líder do processo eleitoral, os petistas pretendem
tratar a eleição de 2018 como uma arena para expor uma narrativa de
injustiças contra Lula, denunciar o impeachment de Dilma Rousseff e propagandear o legado dos 14 anos em que a sigla esteve no poder.
Nesse sentido, as críticas feitas por
Ciro ao PT nos últimos meses geraram uma incompatibilidade determinante
entre os dois grupos, a ponto de Lula tratá-lo como rival,
excomungando-o do campo da esquerda.
O comportamento do ex-presidente revela
exatamente o que ele tenta negar: o PT ainda tem a ilusão de exercer um
papel hegemônico, reduzindo outras forças políticas a meros satélites. O
movimento funcionou em quatro eleições, mas pode levar a sigla a um
isolamento quase inédito na próxima disputa.
Petistas justificam que o partido tem
força para sustentar essa posição porque ainda detém capital político
para exercer protagonismo na campanha. Alegam que um candidato do PT
apoiado por Lula tem potencial para ser maior do que Ciro —que aparece
com no máximo 13% dos votos na última pesquisa do Datafolha.
O plano B petista, porém, ainda é uma
incógnita, e as alternativas que o partido tem à mão são cada vez mais
escassas. Ao fechar portas cedo demais, o PT corre o risco de chegar às
urnas apequenado.