Apesar
de defenderem em conjunto o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva
após seu julgamento, partidos de esquerda afirmam que não pretendem se
unir, ao menos por enquanto, em torno de uma candidatura única ao
Palácio do Planalto –em especial a do ex-presidente ou de outro nome do
PT.
Assim
como no campo de centro-direita, onde há uma série de pré-candidatos
colocados, entre as siglas de esquerda a tendência de pulverização de
candidaturas ficou mais forte depois que o TRF-4 (Tribunal Regional
Federal da 4ª Região) condenou Lula a 12 anos e um mês de prisão.
PC
do B, PDT e PSOL pretendem lançar candidatos, mesmo que, por ora, não
figurem no topo das pesquisas. As duas primeiras legendas já
apresentaram a deputada estadual gaúcha Manuela d'Ávila e o ex-ministro
Ciro Gomes, respectivamente. O PSOL anunciará em março seu nome para a
disputa –Guilherme Boulos, líder do MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), é um nome cogitado.
Setores
do PT ainda dizem apostar em uma união em torno de Lula, principalmente
depois do engajamento dos partidos de esquerda na defesa da
participação do ex-presidente na eleição mesmo após as condenações.
"Lula vai unificar as esquerdas em função dessa nova conjuntura", diz José Guimarães (PT-CE), líder da oposição na Câmara.
Dirigentes
de outros partidos, no entanto, consideram essa possibilidade remota no
momento. "Somos absolutamente solidários ao presidente Lula e
defendemos o direito dele de participar das eleições. Mas não há aliança
prevista no momento", afirma o deputado Orlando Silva (PC do B-SP).
"Apesar
de o PSOL ter se engajado neste processo de resistência democrática
contra as arbitrariedades que estão sendo produzidas na Lava Jato, em
nenhum momento vimos esta frente democrática como frente eleitoral, ao
contrário do que alguns dirigentes petistas tentam dar a entender", diz o
presidente do PSOL, Juliano Medeiros.
Para
ele, a condenação do ex-presidente Lula gera uma "tendência de
fragmentação maior", já que partidos que poderiam apoiá-lo "perdem um
pouco desse compromisso que poderiam ter".
"Outros
partidos que consideravam uma aliança com Lula estão mais impactados
com a possibilidade de ele ficar inelegível", afirma.
MAIS DISTANTES
Parte
das legendas vai além e, apesar das críticas ao julgamento do
ex-presidente, indica resistência a um engajamento direto em defesa do
petista na campanha.
O
PSB, que chegou a divulgar nota em que afirmava ver "atipicidade" na
tramitação do processo contra Lula, começa a se afastar do debate sobre
sua defesa.
"O
partido fez algumas observações sobre esse caso, mas o fato está
consumado. Agora, há uma luta jurídica que o PT vai ter que fazer. Esse
debate ficou para trás", diz o ex-governador capixaba Renato Casagrande,
secretário-geral do PSB.
O
presidente do PDT, Carlos Lupi, critica a condenação de Lula, que
considera "um abuso do poder jurídico sobre o poder político", mas
afirma que a sigla não deve estar na linha de frente da defesa do
petista na eleição.
"Eu
não acho que esse debate seja prioritário. Acreditamos que a condenação
é um erro e que não há provas. Defendemos o Lula, mas a mobilização
será a parte do PT. Na campanha, nós vamos fazer o nosso trabalho", diz.
PLANO B
Sob reserva, aliados de Lula vão além e avaliam que o PT sabe que as chances de o ex-presidente chegar às urnas são pequenas.
No entanto, entendem que o partido segue com a estratégia de defender o nome dele por uma questão de sobrevivência: é necessário demarcar território e tentar garantir estatura para suas bancadas no Congresso.
Apesar
de negar a existência de um plano B, o PT tem hoje dois nomes mais
prováveis para substituir Lula, caso ele esteja inelegível: o
ex-prefeito de São Paulo Fernando Haddad e o ex-governador Jaques
Wagner, da Bahia. (Folha de S.Paulo – Bruno Boghossian e Daniel Carvalho)