Bernardo Mello Franco – Folha de S.Paulo
"Estou perdoando
os golpistas deste país." O anúncio de Lula, na última segunda-feira,
foi muito mais que uma frase de efeito. O ex-presidente deu a senha para
que o PT volte a se aliar com partidos que apoiaram o impeachment.
A
dança do acasalamento inclui até o PMDB de Michel Temer. Lula já havia
selado as pazes com Renan Calheiros. Agora avança em acertos com
peemedebistas que continuam agarrados ao governo, como o presidente do
Senado, Eunício Oliveira.
Separados
pelo impeachment, PT e PMDB já ensaiam se unir em ao menos seis
Estados. É a retomada de um casamento de interesses, rompido com brigas e
acusações de traição. Os petistas se diziam apunhalados pelos
ex-parceiros, que romperam o matrimônio para ficar com todos os bens,
inclusive o palácio.
Com
o "perdão" de Lula, todos ficam liberados para flertar novamente. O PT
pisca para os oligarcas, que controlam máquinas municipais e estaduais.
Os peemedebistas retribuem, ansiosos para faturar a popularidade do
ex-presidente.
O
dote da união é o novo fundo partidário. Somadas, as duas legendas
comerão um quarto do bolo de recursos públicos. Além disso, PT e PMDB
continuarão a ter as maiores fatias da propaganda na TV.
Pragmático,
Lula constatou que o discurso do golpe não dá voto. Nas eleições
municipais de 2016, o petismo perdeu cerca de 60% de suas prefeituras.
Encolheu no Nordeste, foi dizimado no ABC paulista e só venceu em uma
capital, a do Acre.
Isso
ajuda a explicar a aposta na reconciliação, mesmo que seja preciso
esquecer o que aconteceu no verão passado. "Está em curso a tradição
brasileira da recomposição pelo alto", constata o deputado Chico
Alencar, do PSOL.
A
próxima tarefa de Lula é amaciar a militância de esquerda que foi às
ruas em defesa de Dilma Rousseff. Mas isso ele já fez outras vezes,
quando se uniu a inimigos históricos como Fernando Collor e José
Sarney.