Raquel
Dodge terá de dar início a um freio de arrumação no Ministério Público
Federal como um todo, porque abusos e erros ocorreram. Se tentar tapar o
sol com a peneira, poderá se enfraquecer como aconteceu com Janot na
reta final. A
denúncia contra Temer é forte, mas tem excessos. Um exemplo: o
procurador-geral exagera quando diz que a indicação de ministros após a
saída de Dilma do poder foi uma forma de Temer garantir espaços a
organizações criminosas (PMDB e PP). Ele criminaliza a política quando
deveria apontar políticos criminosos.
A
denúncia de Janot ganha força quando o doleiro Lúcio Funaro relata
contratos, valores, datas e para quais políticos e intermediários
repassou propina. No
caso do PMDB da Câmara, Janot faz um corte e diz que o grupo passou a
agir como organização criminosa sob a liderança de Temer no ano de 2006
em diante, na administração Lula. Quem vai dizer se esse grupo cometeu
crimes é a Justiça, mas essas pessoas atuavam politicamente juntas, pelo
menos, desde o governo FHC.
Em
1997, Eliseu Padilha virou ministro dos Transportes a fim de impedir
uma CPI que apurasse o episódio da compra de votos no Congresso para
aprovar a emenda da reeleição, o que beneficiou diretamente o então
presidente Fernando Henrique Cardoso. FHC, à época, deu espaço a uma
organização criminosa?
Quando
envereda por considerações políticas do presidencialismo de coalizão,
Janot e o Ministério Público vão mal. Quando recorrem aos relatos de
Funaro para apontar casos específicos, vão bem.
Raquel
Dodge terá de filtrar exageros e erros do próprio Ministério Público se
quiser ter sucesso no novo cargo, a começar pela guerra de egos que
leva procuradores da República a atacar o governo, o Congresso e Supremo
Tribunal Federal como se políticos fossem. Ela também terá a tarefa de
combater o corporativismo, sobretudo a defesa absurda que entidades de
representação do Ministério Público fazem de privilégios, como os
supersalários que ultrapassam o teto constitucional.