Do G1/PE
A Polícia Federal (PF) deflagrou, na manhã de hoje, a operação Vidas
Secas – Sinhá Vitória, para prender suspeitos de participar de um
esquema de superfaturamento das obras de engenharia executadas para a
transposição do Rio São Francisco.
Segundo as investigações, empresários do consórcio OAS/Galvão/Barbosa
Melo/Coesa utilizaram empresas de fachada para desviar cerca de R$ 200
milhões das verbas públicas destinadas às obras, no trecho que vai do
agreste de Pernambuco à Paraíba. O consórcio cuidava de dois lotes dos
14 envolvidos na transposição do São Francisco. Os contratos
investigados até o momento são de R$ 680 milhões.
Ainda de acordo com a PF, algumas empresas ligadas à organização
estariam em nome do doleiro Alberto Youseff e de um lobista de nome
ainda não divulgado, investigados na Operação Lava Jato.
Ao todo, serão cumpridos 32 mandados judiciais nos estados de
Pernambuco, Goiás, Mato Grosso, Ceará, São Paulo, Rio de Janeiro, Rio
Grande do Sul, Bahia e Brasília, sendo quatro mandados de prisão no Rio
de Janeiro, Distrito Federal, São Paulo e Goiás, quatro mandados de
condução coercitiva no Rio Grande do Sul, em São Paulo e Goiás. Ainda há
24 mandados de busca e apreensão, sendo sete em Pernambuco.
No Recife, a Polícia irá cumprir mandados nos bairros de Boa Viagem,
Coelhos e Graças. Ainda há atuação da PF nos municípios de Sertânia e
Salgueiro, no Sertão do Estado. Os investigados irão responder pelos
crimes de associação criminosa, fraude na execução de contratos e
lavagem de dinheiro.
A reportagem do G1 entrou em contato com cinco empresas listadas pela
PF em endereços pernambucanos. A Concremat Engenharia e Tecnologia S/A e
a A Galvão Engenharia, ambas com sede em Boa Viagem, na Zona Sul do
Recife,atenderam às chamadas, mas não disponibilizaram porta-vozes para
comentar sobre o assunto. A OAS Engenharia, também em Boa Viagem, ainda
não se posicionou sobre a operação da PF. A Arcadis Logos S/A, no bairro
dos Coelhos, área central da cidade, não atendeu às chamadas. A Ecoplan
Engenharia Ltda., sediada no bairro das Graças, na Zona Norte, não quis
falar com a reportagem.
A transposição
Orçado em R$ 8,2 bilhões, o projeto, de iniciativa federal, tem o
objetivo de garantir o abastecimento de água para 390 municípios dos
estados de Pernambuco, Ceará, Paraíba e Rio Grande do Norte,
beneficiando aproximadamente 12 milhões de habitantes. Iniciada em 2006,
a obra tinha orçamento inicial de R$ 4,5 bilhões e, devido aos atrasos,
teve o custo praticamente dobrado. Segundo o Ministério da Integração
Nacional, a demora na entrega dos trechos acontece devido à burocracia
na escolha das empresas e na adaptação dos projetos iniciais.
Através da construção de quatro túneis, 14 aquedutos, nove estações
de bombeamento e recuperação de 23 açudes existentes na região do
Nordeste Setentrional, a transposição visa a beneficiar, com as águas do
Rio São Francisco, 11 bacias da região com oferta hídrica per capita
inferior à considerada ideal pela Organização das Nações Unidas (ONU).
Aproximadamente R$ 1 bilhão do total de investimentos está destinado
para programas básicos ambientais. Segundo dados do mês de outubro, as
obras do Projeto de Integração do Rio São Francisco apresentam 81% de
execução física. Atualmente, há 10.141 trabalhadores contratados para
atuarem no empreendimento. Para aperfeiçoar o gerenciamento, o
Ministério da Integração Nacional implantou, em 2011, outro modelo de
monitoramento, licitação e contratação para os seis trechos de obras.