As duas operações da Polícia Federal em território do senador
Fernando Bezerra Coelho (PSB), a primeira em seu apartamento de Boa
Viagem, no Recife, e a segunda ontem, na Fundação 2020, produziram um
efeito político que pode ter consequências já nas eleições municipais do
ano que vem.
Fernando sonha em retomar a Prefeitura de Petrolina, sua principal
base eleitoral, por onde começou sua carreira política, apostando na
candidatura do filho Miguel Coelho, deputado estadual, a quem entregou o
comando da legenda socialista no município após uma queda de braço
travada com o deputado estadual Lucas Ramos, pré-candidato a prefeito.
Com o partido sob o seu controle, o senador esvaziou,
consequentemente, o grupo do deputado federal Gonzaga Patriota, que
dirigiu por muito tempo o diretório municipal. Alijado das hostes
socialistas num processo no qual sequer foi ouvido, Patriota bate hoje
de frente com o senador e já declarou que não vota no candidato a
prefeito do partido patrocinado por Fernando.
As consequências maiores para o senador poderão vir mais à frente,
dependendo naturalmente dos desdobramentos da operação Lava Jato. Ele
responde à investigação por suposto envolvimento no esquema de corrupção
na Petrobras. A acusação partiu do ex-diretor da Petrobras, Paulo
Roberto Costa, em sua delação premiada.
Em depoimento dado em agosto do ano passado, Costa relatou que, em
2010, Bezerra Coelho pediu R$ 20 milhões para a campanha à reeleição do
então governador de Pernambuco Eduardo Campos (PSB), morto em 2014. Na
época, Bezerra Coelho era secretário de Desenvolvimento da administração
de Campos. Ele nega as suspeitas.
No pedido feito ao STF, as advogadas do senador apontam supostas
contradições entre a versão de Paulo Roberto e a de Alberto Youssef
sobre o esquema de pagamento de propinas em obras da Refinaria Abreu e
Lima, de onde teria saído o dinheiro dado a Bezerra Coelho.
A peça mostra trechos de cada depoimento. No primeiro, Paulo Roberto
relata que o esquema envolveria consórcio formado pelas empreiteiras
Iesa e Queiroz Galvão. No segundo trecho destacado, Youssef aponta
pagamento de propina a partir de contrato firmado por consórcio composto
pelas construtoras OAS e Odebrecht.
Para a defesa de Bezerra Coelho, a diferença nas versões exigiria que
a PF ouvisse primeiro os dois delatores para esclarecer os fatos e, só
depois, o senador, de modo que ele pudesse se defender adequadamente. Ao
comentar, ontem, a nova operação da PF, desta feita em seu escritório
de Petrolina, FBC emitiu uma curta nota.
Nela, afirma que ação da PF de ontem ocorreu no escritório político
de Fernando Bezerra Coelho em Petrolina (PE). “O senador reitera sua
confiança no trabalho das autoridades que conduzem este processo
investigatório, acreditando no pleno esclarecimento dos fatos, e
continua, como sempre esteve, à disposição para colaborar com os ritos
processuais e fornecer todas as informações que lhe forem demandadas”,
complementa.