Tem razão o vice-presidente Michel Temer quando diz que sem respaldo
popular a presidente Dilma não tem condições de governar até o fim do
seu mandato, ou seja, mais três panos pela frente. Um Governo só tem
sustentabilidade se contar com o apoio do Congresso e da opinião
pública, das ruas.
Dilma perdeu os dois. No Congresso, há muito não aprova projetos de
interesse do seu Governo. O que se observa na prática é um
parlamentarismo branco, com Eduardo Cunha, na Câmara, e Renan Calheiros,
no Senado, pautando o que interessa a ambos, de natureza estritamente
fisiológica.
A voz rouca das ruas, de profundo desapontamento com o Governo, vem
de todas as pesquisas de opinião. Beirando à casa dos 8% de aprovação,
Dilma chegou a um patamar de reprovação pior do que o ex-presidente
Fernando Collor quando esteve no ápice da sua crise, à beira do
precipício para ser degolado.
Não conheço na história republicana nenhum governante que consiga se
impor com 76% astronômicos de ruim e péssimo. Isso não é aqui no Brasil,
mas em qualquer lugar do mundo. Quando Lula chegou à beira da cova no
episódio de mensalão só se salvou por causa da economia, que naquele
momento estava bem.
Hoje, nem com este cenário Dilma pode contar. Estrangulada, a
economia vai de mal a pior, com índices crescentes de desemprego, do
aumento da inadimplência, empresas fechando às portas, um descrédito
arrepiante por parte do empresariado, que se enxerga num grande
atoleiro, quase no fundo do poço.
Dilma está tão fragilizada, dispersa e perdida que permite que o seu
principal ministro, o comandante da economia deteriorada, Joaquim Levy,
se submeta a um processo de fritura nunca visto na história, ridículo
para ser mais preciso. E o mais grave: as declarações da presidente
negando à demissão não convencem.
Levy está demissionário porque a queimação, num caldeirão de 180
graus, tem autores conhecidos: as principais lideranças do PT, a começar
pelo ex-presidente Lula, que torce o nariz para o ajuste fiscal que
saiu da cabeça do ministro, foi aprovado com muitas dificuldades no
Congresso e não é, nem de longe, a panaceia dos males que enterraram o
Governo.