Análise da Polícia Federal de troca de e-mails entre o presidente da
Construtora Norberto Odebrecht, Marcelo Bahia Odebrecht, e executivos
do grupo indicam suposta tentativa da maior empreiteira do país de
apresentar propostas com preços majorados em contratos de navios-sondas
para a Petrobras. As mensagens citam os nomes do ministro-chefe da Casa
Civil Aloizio Mercadante (PT-SP) e do ex-presidente da estatal José
Sérgio Gabrielli como contatos políticos da empreiteira alvo da Operação
Lava Jato nas negociações. Na ocasião da troca de e-mails de Odebrecht,
em 2011, Mercadante ocupava o cargo de ministro da Ciência, Tecnologia e
Inovação. "Foram identificadas, por parte do Grupo Odebrecht,
especialmente do executivo Marcelo Odebrecht, ações com o objetivo de
exercer influência política para obtenção de êxito na celebração de
novos contratos com a Petrobras", conclui o laudo subscrito por três
peritos criminais federais do Setor Técnico Científico da PF. Em e-mail
de 7 de janeiro de 2011, às 8h57, Marcelo Odebrecht escreveu: "Quanto a
Petrobras precisamos saber quem é que decide este assunto, e a
estratégia para influenciá-lo. No que tange a influenciar temos vários
caminhos (mais ou menos eficazes), mas precisamos ter cuidado com a
reação de Estrela (Guilherme Estrela, ex-diretor da Petrobras) e equipe a
esta pressão pois uma coisa é influenciar na construção de uma solução
desde o início, outra é pressão para reverter uma decisão tomada. "Junto
ao Estrela vejo importante a conversa de vocês (importante saber tb
feedback conversa Mercadante - me acionem se não conseguir obter do Luiz
Elias). Posso também pedir a Mercadante um reforço", afirmou Odebrecht
na mensagem. "Por fim tem o próprio Gabrielli como ultima tentativa, que
poderia fazer. Ele não gosta da gente (Suzano, Quattor, sondas), mas a
tese é boa e talvez quem sabe?", diz a mensagem. Nas conversas entre
2010 e 2011, que incluem dois outros executivos presos da empreiteira,
Rogério Araújo e Márcio Farias, o tema tratado é os sete contratos de
navios-sonda, usados para exploração de petróleo em alto mar, nos campos
do pré-sal. "Notou-se em meio ao material apreendido uma sequência de
comunicações que dizem respeito a influências políticas por parte do
Grupo Odebrecht, em especial, através da figura de seu presidente,
Marcelo Odebrecht, no tocante à contratação para construção dos
navios-sonda", diz o laudo. O ministro da Casa Civil Aloizio Mercadante
afirma em nota que defendeu o regime de partilha, a Petrobras como
operadora única no Pré-Sal, a política de conteúdo local e de compras
públicas para viabilizar investimento na cadeia industrial de gás e
petróleo. José Sérgio Gabrielli, ex-presidente da Petrobras, diz não
temer quebra do seu sigilo fiscal ou bancário em relação a
comportamentos ilícitos. "Todas as minhas operações financeiras e
tributarias se pautaram pela extrema transparência e legalidade", diz
ele. A Odebrecht diz, em nota, que o relatório "presta um desserviço à
sociedade e confunde a opinião pública ao estabelecer suposições a
partir de e-mail de Marcelo Odebrecht, quando deveria ater-se a fatos
concretos".