Da Folha de .Paulo – Catia Seabra, Bela Megale, Valdo Cruz, Andreia Sadi, Natuza Nery e Flávia Foreque
Em conversas, ex-presidente afirma que há 'inércia' do governo para conter danos causados pela investigação
Petistas e assesssores de Dilma destacaram o amplo leque de relações dos executivos presos, sobretudo com o PSDB
O
ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva disse a aliados que a prisão
dos presidentes da Odebrecht e da Andrade Gutierrez é uma demonstração
de que ele será o próximo alvo da Operação Lava Jato. Lula também
reclamou nesta sexta-feira (19) do que chamou de inércia da presidente
Dilma Rousseff para conter os danos causados pela investigação.
Ainda
segundo seus interlocutores, Lula se queixa da atuação do
ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante, que teria convencido
Dilma a minimizar o impacto político da Lava Jato.
Nas conversas, ele se mostra preocupado pelo fato de não ter foro privilegiado, podendo ser chamado a depor a qualquer momento.
Para
petistas, os desdobramentos das investigações podem afetar o caixa do
partido e por em xeque a prestação de contas da campanha da presidente.
Nesta
sexta, Lula manteve sua agenda: um almoço com o ministro da Educação,
Renato Janine, e o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, além do
secretário municipal de Educação, Gabriel Chalita. Segundo
participantes, ele exibia bom humor.
PROXIMIDADE
A
conhecida proximidade dos executivos da Odebrecht com Lula preocupa o
PT. A empresa patrocinou viagens do ex-presidente ao exterior com a
justificativa de tentar fomentar negócios na África e América Latina.
Em
viagem à Guiné Equatorial em 2011, como representante do governo Dilma,
o ex-presidente colocou entre os integrantes de sua delegação oficial o
executivo Alexandrino Alencar, diretor de relações institucionais da
Odebrecht, também preso nesta sexta-feira.
Lula
e Alexandrino são conhecidos de longa data: no livro "Mais Louco do
Bando", Andrés Sanchez, ex-presidente do Corinthians, relata uma viagem
em 2009 que Alexandrino fez a Brasília com Emílio Odebrecht, presidente
do conselho de administração da empresa. Na época, Lula pediu ajuda à
Odebrecht para o Corinthians construir seu estádio.
A
tensão no mundo político também se explica por uma informação que
circula desde o fim de 2014 no meio empresarial. Marcelo Odebrecht,
segundo aliados, afirmou que não "cairia sozinho" caso fosse preso. A
empresa sempre negou ameaças.
DEFESA
Petistas
e integrantes do governo também reagiram contra a oposição e afirmaram
que, dada a influência das duas empreiteiras e o amplo leque de relações
dos executivos presos, a investigação atingirá as demais siglas,
incluindo o PSDB.
Durante
a campanha presidencial de 2014, segundo estes interlocutores do
governo, os presidentes das duas empreiteiras fizeram chegar
reservadamente ao Planalto a sua intenção de votar na oposição.