Câmara dos deputados durante votação que barrou denúncia de corrupção feita contra Michel Temer
Indignados reagem cedo contra os bilhões empenhados por Temer para compra de votos
Janio de Freitas - Folha de S.Paulo
Reagem muito cedo os indignados com os R$ 4,1 bilhões do Tesouro Nacional empenhados pelo denunciado Michel Temer para compra de votos na Câmara contra o seu afastamento.
Deputados
esfregam as mãos e abrem os bolsos: o que a Câmara derrubou foi só o
primeiro dos processos criminais contra o denunciado Temer previstos
pelo procurador-geral Rodrigo Janot. A pirataria no Tesouro não está
completada, portanto. Os deputados devem votar outra vez. E segundos
votos queimativos na opinião do eleitorado, a caminho de ano eleitoral,
não dispensam o aumento de preço.
Os R$ 4,1 bilhões deram gorda contribuição ao rombo, estimado em R$ 10 bilhões, nas previsões de Henrique Meirelles.
Tiveram, assim, presença pesada nas causas do aumento de impostos nos
combustíveis. Logo, o assalto para a vitória de Temer foi duplo, ao
Tesouro e aos que o desejam fora do governo. O que virá da compra de
mais votos e, depois, da necessidade de cobrir novo rombo, aí, sim, dará
a escala da indignação merecida. Esta seria uma questão para
discutir-se agora, em tempo de impedir o assalto enquanto Janot recheia a
nova denúncia, diz ele, "sem ter pressa". Depois, será apenas pagar em
dinheiro, em custo de vida, em desemprego.
A par de uma espera estratégica, a atividade de Janot foi um tanto deslocada do denunciado Temer, por força da recondução de Aécio Neves ao Senado
pelo ministro Marco Aurélio. Daí resultou que Janot veio a ser, à
revelia e talvez sem saber até agora, o solucionador do impasse no PSDB,
que os próprios peessedebistas não conseguiam dissolver. Aécio Neves
articulara para a última sexta-feira o seu retorno à presidência do
partido, com o objetivo de mantê-lo atrelado ao denunciado Temer. Janot,
no entanto, reiterou a Marco Aurélio inesperado e irritado pedido de
prisão de Aécio.
A
articulação não resistiu ao vexame moral e aos riscos de repor na
presidência do partido alguém ameaçado de suspensão do mandato e até de
cadeia. No racha do PSDB, Janot fez a vitória de Tasso Jereissati. Mas
Aécio Neves tem muito futuro. De problemas.
As
más relações entre o denunciado Temer e escrúpulos já puderam ser
vistas –pelos que se dispuseram a vê-las– na conspiração para o
impeachment de Dilma Rousseff. Agora são de conhecimento geral. Não
surpreenderá ninguém que apareçam, em breve, indícios de que passou do
Congresso à Presidência a discussão de ações para salvar certos
implicados em inquéritos. Um acréscimo ao que levou o ministro Luis
Roberto Barroso a dizer, há pouco, que "a operação abafa é uma realidade
visível e ostensiva".
Sobre
esses que "não querem ser punidos" e "os que continuam com o mesmos
'modus operandi' de achaque", a observação de Barroso inclui uma pedra
rara: "Essas pessoas têm aliados importantes em toda parte, nos altos
escalões da República, na imprensa e nos lugares onde a gente menos
imagina". Por suas implicações óbvias, esse é um tipo raro de citação à
imprensa por alguém da hierarquia institucional e não movido por
ressentimento. Raro, mas fundado. Necessário, mas raro.
E, quando ocorre, admirável.