Folha de S. Paulo – Gustavo Uribe e Maeli Prado
O
presidente Michel Temer vai usar o recesso parlamentar para tentar
tirar a denúncia contra ele da agenda política e emplacar discurso de
retomada da discussão das reformas governistas.
A
estratégia da equipe presidencial é atribuir novamente ao presidente o
selo de "reformista", em um esforço para reverter o clima de incerteza
com a votação no plenário da Câmara da denúncia contra ele por corrupção
passiva.
O
Congresso entra em "férias" de duas semanas a partir desta terça (18). A
votação da denúncia da PGR (Procuradoria-Geral da República) pelos
deputados está marcada para o dia 2 de agosto. Entretanto, o Planalto já
trabalha para empurrá-la para setembro, apesar da resistência do
presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
Temer
sabe do risco de surgirem novos fatos contra ele neste período de
recesso, como uma nova denúncia da PGR, desta vez por obstrução de
Justiça, e as possíveis delações premiadas em negociação do ex-deputado
Eduardo Cunha e do doleiro Lúcio Funaro.
O
presidente avalia, porém, que é urgente buscar uma reaproximação com
investidores e empresários. Isso porque, no início de julho, quando
ganhou força a ideia de Maia substituir Temer, agentes de mercado já
precificavam a queda do peemedebista.
Por
esse esforço passa um movimento para destravar a reforma tributária,
emperrada desde abril, e rediscutir a previdenciária, com a abertura da
possibilidade de fatiamento e flexibilização do texto original.
No
sábado (15), Temer almoçou no Jaburu com os ministros Antonio Imbassahy
(Secretaria de Governo) e Mendonça Filho (Educação). No domingo (16),
recebeu Torquato Jardim (Justiça).
A
ofensiva do presidente terá início nesta segunda (17), quando gravará
vídeo defendendo as mudanças na legislação trabalhista aprovadas na
semana passada pelo Senado e em defesa do prosseguimento das reformas.
Na quarta (19), deve se reunir com as centrais sindicais.
A intenção de Temer é apresentar no retorno do Congresso a medida provisória com mudanças nas regras do PIS e da Cofins.
O
movimento seria uma forma, na avaliação de assessores, de tentar causar
impacto positivo no momento em que o plenário da Câmara deve votar a
denúncia.
No
final de julho, ele se reunirá com a base aliada para discutir se há
espaço para votar o texto aprovado da reforma previdenciária ou se ele
terá de ser reduzido, mantendo, por exemplo, apenas a idade mínima. Ele
também discute gravar vídeo convocando pré-candidatos à sucessão
presidencial a apoiarem as novas regras.
MONITORAMENTO
Em
paralelo, o Palácio do Planalto pediu aos líderes da base aliada que
monitorem as suas respectivas bancadas para evitar mudanças de posição
sobre a denúncia.
A
principal preocupação tem sido o PSD e o PR. Apesar de ambos terem
fechado questão contra a acusação durante a análise na CCJ (Comissão de
Constituição e Justiça), o Planalto recebeu sinalizações do risco de
traições.
Pelas
contas da base aliada, o governo conta atualmente com 262 parlamentares
a seu favor, mas precisa conquistar outros 80 para, sem os partidos de
oposição, conseguir número mínimo para que a acusação seja votada e
derrubada.
Outro
foco de Temer será o seu próprio partido, o PMDB. Com a obrigação para
que a bancada vote contra a acusação, um grupo de dez deputados ficou
insatisfeito e ameaça se rebelar.
Controle de gastos
Controle de gastos
Para
o líder do PT, Carlos Zarattini (SP), a estratégia de montar uma agenda
positiva não terá resultado, já que a partir de agosto Temer enfrentará
as consequências do controle de gastos públicos sobre diversas áreas do
governo.
"O
orçamento está em uma situação caótica. As verbas para custeio dos
ministérios estão acabando, e isso vai atingir concretamente a
população. O governo está sem uma pauta real", disse.
Para
ele, a reforma trabalhista, considerada pelo governo uma vitória
importante, foi feita de forma "confusa". "Os advogados começaram a
analisar o texto e concluíram que uma série de pontos não estão claros.
Isso vai gerar uma série de batalhas judiciais", afirmou.