E vira alvo de xingamentos
Folha de S. Paulo - Camila Mattoso e Ranier Bragon
"Bandido", "lixo de governo", "quadrilha", "covarde", "criminosos", "vergonha".
Esses
e outros impropérios ecoaram pelos microfones e autofalantes da CCJ
(Comissão de Constituição e Justiça) da Câmara dos Deputados nas últimas
sessões.
O
alvo era o presidente Michel Temer e a operação comandada por sua base
de apoio no Congresso, que promoveu um entra e sai de deputados raras
vezes visto nas últimas décadas.
Ao todo, foram 25 movimentações, a segunda maior dos últimos 20 anos –a comissão tem 66 titulares e 66 suplentes.
Se
o ânimo da defesa do presidente ia mal até o fim de semana, depois da
última segunda-feira (10), com a intensificação do troca-troca, o clima
virou para comemoração antecipada.
E
o objetivo foi cumprido. Por 40 votos a 25, a CCJ rejeitou o relatório
de Sérgio Zveiter (PMDB-RJ), que era favorável a aceitação da denúncia
do Ministério Público contra o presidente –houve uma abstenção.
Dos
votos que ajudaram Temer, 12 foram novatos colocados na comissão pelos
partidos governistas no decorrer da operação "salva-mandato".
Entre
eles, Carlos Marun (PMDB-MS), Darcísio Perondi (PMDB-RS) e Beto Mansur
(PRB-SP), o trio que mais se reveza na tarefa de se esgoelar na tribuna e
em entrevistas na defesa do presidente da República.
O deputado Major Olímpio (SP) foi o primeiro a perder o lugar na comissão e esbravejou.
Ele
reclamou por ter sido tratado como "corno" e o "último a saber" e por
ter sido removido ao posto de suplente por sua legenda, o Solidariedade,
sem ter sido avisado.
Os partidos são os donos das cadeiras e podem mexer a gosto.
O
deputado Delegado Waldir (PR-GO) revoltou-se e disparou contra o
partido, contra o governo e contra o próprio presidente –ele integrava a
CCJ havia dois anos.
"Este
governo é bandido, é covarde", bradou. "Cambada de bandido! Está tudo
grudado no saco do governo! Quem manda é o Temer, esse bandido! É um
lixo de governo! Quadrilha organizada!", afirmou Waldir.
De
acordo com as regras da Casa, ainda que o parlamentar queira ficar, a
legenda tem a permissão de sacá-lo, indicando outro ao seu lugar.
A
oposição tentou frear a manobra recorrendo ao Supremo Tribunal Federal,
mas a ministra Cármen Lúcia, presidente da corte, entendeu que o tema
só diz respeito ao Congresso.
Perguntado
se foi o responsável por orientar as trocas e se prometeu algo aos
deputados em troca da votação, Temer disse, por meio de sua assessoria
de imprensa, apenas que "esse procedimento é atribuição exclusiva dos
líderes partidários e que só eles podem responder pelas trocas feitas
segundo o regimento da Câmara".
RANKING
Segundo
levantamento feito pela Secretaria da Mesa Diretora da Câmara dos
Deputados, o maior recorde de troca-troca na CCJ dos últimos 20 anos
aconteceu também na gestão de Temer.
No
fim do ano passado, os partidos fizeram 34 substituições quando a
comissão precisava aprovar a reforma da Previdência, defendida pelo
governo.
Na
gestão do atual presidente há ainda outra marca, a quinta do ranking,
em junho de 2016, quando a base aliada tentava barrar o processo de
cassação do ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (PMDB-RJ).
O
levantamento considera os últimos seis mandatos presidenciais –de 1995,
na gestão de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), até 2017.