Marcos Valério revela sistema que financiou desvios desde o governo FHC
Folha de S. Paulo – Janio de Freitas
O uso de delação premiada pela Polícia Federal, como o acordo com Marcos Valério já submetido ao Supremo, torna-se mais ácido para a contrariada Lava Jato com um tempero incluído nas denúncias prometidas.
O
período que Valério se dispôs a abranger não começa, como na Lava Jato,
com o governo Lula. Ele oferece a revelação do sistema que financiou,
por meio de suas empresas de publicidade, desvios financeiros desde o
governo de Fernando Henrique. O contrário do que a Lava Jato admitiu aos
seus delatores.
Os
temas de Valério não incluem as grandes compras e obras da Petrobras,
mas nem por isso negócios da estatal ficam de fora. Grande parte da
atividade ilícita das agências DNA e SMP&B, com envolvimento de
partidos e políticos, valia-se de programas de publicidade e marketing
de estatais, nos quais a Petrobras há muito tem proeminência.
Dessas
atividades é inesquecível, por exemplo, a pretendida mudança de nome da
Petrobras, para Petrobrax. Só a contratação para troca da marca em
todos os seus usos no país inteiro, daria mais um dos escândalos típicos
da Lava Jato. Se, incumbida de desvendar as ilicitudes na Petrobras, a
força-tarefa curitibana não restringisse a tarefa em vez da força. Mas o
xis do problema não foi no governo Lula. Era um preparativo, retirando
do nome o sentimentalismo nacionalista, para a venda da empresa.
Mais
de um delator da Lava Jato referiu-se ao período anterior a 2003. Pedro
Barusco citou com precisão negócios ilícitos na Petrobras já em 1998.
Não entraram, porém, na zona de denúncia e acusação da Lava Jato. Quando
lá apareceu, inesperada, uma menção a algo "no governo Fernando
Henrique", ficou também registrado o brusco e definitivo "isso não
interessa!".
Nessa
linha, não é menos ilustrativa a recusa da Procuradoria da República em
Minas e da Procuradoria-Geral, de Rodrigo Janot, ao acordo de delação
proposto por Marcos Valério, e por fim aceito na PF. Também em Minas, o
"mensalão" do PSDB, ocorrido quatro anos do "mensalão petista", ainda
não tem seu processo concluído: desde o fato a ser julgado, são 19 anos.
E 12 desde as condenações dos acusados pelo "mensalão petista".