Folha de S. Paulo - Marina Dias e Daniela Lima
Rodrigo
Maia (DEM-RJ) passou o último domingo (9) imerso em articulações. Às
vésperas de uma semana decisiva para o governo Michel Temer, traçou a
diversos interlocutores um cenário em que trata a queda do presidente
como irremediável.
No
comando da Câmara e sucessor imediato ao Planalto caso o afastamento e a
derrocada de Temer se concretizem, Maia encerrou o fim de semana com
uma reunião em sua residência oficial em que serviu pizza e sopa e
estava cercado de parlamentares da base aliada ao governo.
Um
dos deputados que estavam no encontro contou que, em tom sóbrio, Maia
reproduziu a alguns dos presentes o diagnóstico que disse ter feito,
horas antes, ao próprio Temer, no Palácio do Jaburu.
Segundo
este interlocutor, o presidente da Câmara afirmou ter dito ao
presidente da República que ele poderá sobreviver à votação, no plenário
da Casa, da primeira denúncia apresentada pelo procurador-geral,
Rodrigo Janot, mas que certamente sucumbiria quando a segunda acusação
chegasse à Câmara.
A
avaliação de Maia é que o resultado da primeira votação influenciará
diretamente a segunda, visto que os deputados da base se desgastariam
uma vez em defesa de Temer, mas numa outra ocasião ficaria "mais
difícil".
Maia
também se queixou de ministros e aliados do presidente, que vêm
questionando sua lealdade diante de relatos de que tem se reunido com
políticos que articulam um cenário pós-Temer.
Afirmou
ainda que, antes do jantar em sua casa, havia participado de um almoço
com "gente importante" que fazia a mesma avaliação sobre o futuro do
governo.
O relato dava conta de um encontro que Maia havia protagonizado horas antes, logo após se reunir com o presidente no Jaburu.
Depois
da conversa com Temer, de pouco menos de uma hora, o presidente da
Câmara, em carro descaracterizado, foi a uma casa no Lago Sul, bairro
nobre de Brasília, para um almoço.
Era o convidado principal de um encontro promovido pelo vice-presidente de Relações Institucionais do Grupo Globo, Paulo Tonet.
A
reportagem da Folha chegou ao local por volta das 14h45. Menos de uma
hora depois foi abordada, pela primeira vez, por um dos seguranças da
casa, que questionou o motivo da campana.
Passados
15 minutos, um segundo funcionário da residência interpelou a
reportagem. Ele disse: "o vice-presidente da Globo quer saber quem você é
e para quem você trabalha".
A
reportagem informou nome e veículo, e confirmou que Maia estava na
residência, com mais cinco políticos, entre eles, os deputados Benito
Gama (PTB-BA) e Heráclito Fortes (PSB-PI) e o ministro Fernando Bezerra
Coelho (Minas e Energia).
Os
carros dos convidados -todos sem placa oficial- só deixaram o local à
noite, por volta de 19h15, após cerca de cinco horas. Motoristas foram
orientados a entrar na garagem para que os passageiros embarcassem com
os portões fechados.
Heráclito disse que o encontro estava "marcado há mais de um mês" e que "não teve nada de conspiração".
"Era
para ser lá em casa mas Tonet resolveu fazer na casa dele", disse. "As
pessoas estão vendo coisa onde não existe. Maia tem sido muito correto",
completou.
Pouco
depois, o presidente da Câmara telefonou a alguns deputados, ministros e
líderes de partido, convidando-os para comer em sua residência oficial,
assim que saíssem de uma reunião com Temer no Alvorada.
Em
sua casa, Maia falou sobre a conversa com o presidente mais cedo,
relatou seu almoço com a direção da emissora e vaticinou o fim do atual
governo.
Na
pizza com sopa, estavam presentes os ministros Antonio Imbassahy
(Governo) e Moreira Franco (Secretaria-Geral), além dos deputados
Benito, Heráclito e dos líderes do governo na Câmara, Aguinaldo Ribeiro
(PP-PB), e no Congresso, André Moura (PSC-SE).
Parlamentares
que participaram do encontro deixaram o local afirmando que o clima não
estava bom para Temer e que a relação de Maia com o Planalto azedou.
Procurado, Maia não quis comentar as reuniões.