A condenação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a votação
em plenário da denúncia da Procuradoria-Geral da República contra Michel
Temer ampliaram as incertezas sobre o cenário eleitoral de 2018 e terão
efeitos diretos na definição das candidaturas. A intenção de Lula de
concorrer, mesmo após ter sido sentenciado, pode “judicializar” a
disputa, pulverizar os cenários, fragmentar o campo da centro-esquerda e
interferir indiretamente na escolha do candidato da atual aliança
governista, formada majoritariamente por PMDB, PSDB e DEM.
Na outra ponta do espectro, essa mesma aliança atravessa seu pior
momento, estressada pela possibilidade de Temer ser afastado do cargo e
de os tucanos deixarem o Governo. Outros efeitos colaterais dessas
crises deverão ser a multiplicação de candidaturas, o fortalecimento de
nomes de fora da política e um possível arrefecimento do chamado
“discurso ético” nas campanhas. O prefeito de São Paulo, João Doria
(PSDB), até agora fora da Lava Jato, se fortalece com a condenação de
Lula e sua candidatura.
“Favoreceu Doria, que imediatamente botou uma bandeira do Brasil em
apoio a Moro na Prefeitura. A candidatura Doria é quase uma imposição”,
diz Murillo de Aragão, advogado e cientista político da Arko Advice
Pesquisas. “A presença ou não do Lula tem efeito direto no PSDB. Sem
ele, Doria se enfraquece na disputa para ser o candidato tucano”, afirma
Rafael Cortez, cientista político e analista político sênior da
Tendências Consultoria Integrada.
Quando faz a ressalva de que “sem Lula” Doria se enfraquece e,
consequentemente, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB),
ganha força, Cortez leva em consideração a possibilidade de o
ex-presidente petista ser impedido pela Justiça de concorrer no ano que
vem, a chamada “judicialização” da eleição. “A condenação consolidou o
efeito do Judiciário na competição eleitoral.”
Se a condenação de Lula a 9 anos e 6 meses de prisão, determinada
pelo juiz federal da primeira instância Sérgio Moro, for confirmada na
segunda instância, Lula poderá ser impedido, conforme a lei, de ser
candidato. A análise do recurso da defesa só deverá ocorrer no ano que
vem. A avaliação predominante, incluindo a de políticos ligados a
setores do campo de centro-direita, é de que o ex-presidente, mesmo
condenado, não pode ser considerado carta fora do baralho.
Eventual absolvição em segunda instância fortaleceria sua
candidatura, pois daria respaldo ao discurso de que ele é vítima de
perseguição política. Uma vez impedido de disputar a eleição, seria um
forte cabo eleitoral. “Do ponto de vista político, é melhor tratá-lo
como candidato”, diz Cortez, para acrescentar: “É preciso, entretanto,
lembrar que Lula está se isolando dentro da esquerda e só venceu uma
eleição presidencial (em 2002) quando se aliou ao centro”.