O novamente senador Aécio Neves (PSDB-MG) teve como uma
das principais bandeiras em sua campanha à presidência da República, em
2014, o combate à corrupção. Em um dos inúmeros momentos em que o tucano
enfrentou a então candidata à reeleição Dilma Rousseff, ele disse “que o
sentimento do brasileiro hoje é de indignação que não suportam mais ver
tanta corrupção”. A declaração aconteceu no dia 24 de outubro, às
vésperas do segundo turno, quando o grão-tucano era o paladino da
moralidade e o herói disposto a salvar o Brasil das garras do PT. Pula
para maio de 2017. O ministro do Supremo Tribunal Federal, Edson Fachin,
suspende o sigilo do conteúdo das delações do Grupo JBS e uma conversa
de compadres entre o empresário Joesley Batista e o presidente do PSDB
ganha as manchetes. Aécio pede R$ 2 milhões para ajudar na defesa das
inúmeras citações dele no âmbito da Operação Lava Jato, desde os
indícios de corrupção na construção da Cidade Administrativa do Governo
de Minas Gerais ao caixa 2 da mesma campanha eleitoral de 2014, quando o
próprio Aécio prega o fim da corrupção e da era do PT no governo. O
mesmo ministro do STF determina o afastamento temporário do tucano do
Senado. Após o episódio, senadores pedem a cassação do mandato de Aécio
por quebra de decoro. O presidente do Conselho de Ética, João Alberto de
Souza (PMDB-MA), arquiva o pedido. O afastamento do Senado é revogado
no último dia 30, pelo novo relator do processo, o ministro Marco
Aurélio Mello. Mais uma passagem de tempo. Quinta-feira, 6 de julho de
2017. Reunidos no Conselho de Ética, 11 senadores da República arquivam,
em definitivo, o pedido de cassação contra Aécio Neves, sob o mesmo
argumento utilizado pelo presidente do colegiado: “falta de provas”.
Entre o dia 24 de outubro de 2014 e 06 de julho de 2017, os brasileiros
não mudaram. A fala do próprio Aécio não pode ser mudada. E a situação
política do Brasil também não mudou. A corrupção caminha para ser
empurrada para baixo do tapete, apesar dos esforços do Ministério
Público Federal e da Polícia Federal em tentar extirpar esse flagelo. O
Senado provou isso. Pena. Este texto integra o comentário para a RBN Digital, veiculado às 7h e com reprise às 12h30. Veja o Tweet que rememorou a fala de Aécio: