quarta-feira, 28 de junho de 2017

Temer declara guerra a Janot



Com uma claque de deputados aliados e ministros, o presidente Michel Temer (PMDB) criticou, ontem, em pronunciamento, o fatiamento da denúncia do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, oferecida contra ele ao Supremo Tribunal Federal. “Se fatiam as denúncias para provocar fatos semanais contra o governo. Querem parar o País, parar o Congresso num ato político, com denúncias frágeis e precárias. Atingem a Presidência da República, atentam contra o País”, afirmou.
Temer disse que “reinventaram o Código Penal e incluíram uma nova categoria: a denúncia por ilação”. “Se alguém cometeu um crime e eu o conheço, logo sou também criminoso”, disse. Janot denunciou criminalmente ao STF o presidente por corrupção passiva com base na delação dos acionistas e executivos do Grupo J&F, que controla a JBS. O ex-assessor especial do presidente e ex-deputado federal Rodrigo Rocha Loures também foi acusado formalmente.
Sem citar nenhuma vez o nome de Janot, Temer disse ainda está disposto a lutar pelo governo e por sua honra. “Não fugirei das batalhas, nem da guerra que temos pela frente. A minha disposição não diminuirá com os ataques irresponsáveis à instituição Presidência da República, nem ao homem Michel Temer. Não me falta a coragem para seguir na reconstrução do Brasil e na defesa de minha dignidade pessoal”, disse no fim do discurso de cerca de 20 minutos.
O presidente afirmou que foi denunciado por corrupção passiva, sem jamais ter recebido valores. “Nunca vi o dinheiro e não participei de acertos para cometer ilícitos. Onde estão as provas concretas de recebimento desses valores? Inexistem. Reinventaram o código penal e incluíram uma nova categoria: a denúncia por ilação. Se alguém cometeu um crime e eu o conheço, logo sou também criminoso”, reforçou.
Temer destacou ainda que é advogado e que está tranquilo em relação a denúncia no âmbito jurídico, e que ela é na realidade uma “infâmia de natureza política”. “No momento que estamos colocando o País nos trilhos somos vítimas desta infâmia de natureza politica”, disse o presidente, destacando que foi denunciado “a essa altura da vida por corrupção passiva”. Segundo Temer, “abriu-se perigosíssimo precedente em nosso Direito”. “Esse tipo de trabalho trôpego permite as mais variadas conclusões sobre pessoas de bem e honestas”, disse.
Sempre tão frio, contido, formal, o presidente foi mercurial na sua declaração pela TV e partiu diretamente para cima do procurador geral da República, Rodrigo Janot. Classificando a denúncia contra ele de “ilações”, Temer fez uma comparação: se a mala de dinheiro de Rocha Loures foi para ele (como acusa a PGR), por que os “milhões” que o ex-braço direito de Janot, Marcelo Miller, teria ganhado para advogar na delação da JBS não seriam também de Janot?
REAÇÃO DA OPOSIÇÃO– A oposição reagiu fortemente ao pronunciamento do presidente Temer, classificando-o de desastroso. Para o líder da Rede, Alexandre Molon (RJ), Michel Temer usou e abusou de cinismos e ironia. “Na ausência de qualquer argumento minimamente razoável para fundamentar a sua defesa, o presidente recorreu à tática baixa e rasteira de tentar desqualificar quem teve a coragem de denunciar os crimes dele. Foi um pronunciamento que revelou não uma defesa fraca, mas a inexistência da própria defesa, porque ele simplesmente abriu mão de tentar se defender. Um desastre para o país", afirmou.
Impeachment engavetado– A denúncia do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, contra Michel Temer forneceu o argumento perfeito para que o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), colocasse de vez em banho-maria os pedidos de impeachment do presidente. Maia vinha sendo cobrado pela oposição para que tratasse dos pedidos e, agora, diz que “não tem sentido tratar disso ao mesmo tempo em que já está sendo apresentada uma denúncia pela PGR”. Oficialmente, Maia diz que não está arquivando os pedidos. Na prática, ganha tempo para que eles percam força.