Da Folha de São Paulo
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) defendeu, hoje, em
Salvador, a antecipação das eleições para outubro deste ano e afirmou
que o partido "não deve ter vergonha" de dizer que quer um novo pleito
presidencial.
Lula foi a Salvador para participar do 29º Encontro Estadual do MST
(Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra), no Parque de Exposições
da Bahia, numa estratégia do PT de reaproximação dos movimentos sociais
ligados ao partido.
Parte dos dirigentes petistas defendiam que Lula oficializasse sua
pré-candidatura à presidência da República neste evento, o que não
ocorreu.
Em discurso, Lula afirmou que "se necessário", voltaria a disputar a
presidência da República. E disse que está "pedindo a Deus" que apareçam
outras pessoas para serem candidatas ao cargo.
"Deus queira que apareçam outros companheiros, nós temos um ano
inteiro pela frente. Agora, esse ano eu vou andar o país. Primeiro, para
recuperar a imagem do meu partido. Segundo, para recuperar a minha
imagem", diz.
Mesmo assim, afagou a plateia formada por dois mil agricultores e
dirigentes do MST, que usavam bonés com a frase "eu estou com Lula" e
interromperam o discurso de ex-presidente com gritos de "Fora Temer".
"Eu nunca mais dizer 'eu vou voltar', eu vou dizer mais: nós
voltaremos a governar este país", disse Lula, vestindo camisa vermelha e
um boné do MST.
O presidente do PT Rui Falcão afirmou que o partido "ainda não tomou
decisão" sobre quem será candidato. Mas disse que "é uma aspiração
nacional que Lula retome por eleições diretas à Presidência do país".
Na mesma linha, o coordenador nacional do MST, João Pedro Stédile,
afirmou que não havia necessidade de lançamento da candidatura "porque
Lula é o candidato permanente não só do MST, mas de todo povo
brasileiro.
MORO CANDIDATO
Ao defender a antecipação das eleições presidenciais, Lula conclamou
potenciais adversários, incluindo o juiz Sergio Moro e os delegados da
Lava Jato, a disputar as eleições.
"Se o [José] Serra quer disputar, se o Aécio [Neves] quer, se o [juiz
Sergio] Moro quer ser presidente, se os delegados querem, ótimo. Se
'grampinho' [ACM Neto] quer ser presidente, ótimo. Entre num partido e
vá para a rua pedir voto. O que não pode é querer ser presidente dando
golpe na base da canetada", afirmou.
Lula, que é réu em cinco ações da Operação Lava Jato, defendeu-se das
suspeitas afirmando que, aos 71 anos, "não ia envergonhar a alma" da
mãe.
Também criticou os meios de comunicação e disse que o ódio contra ele
prejudica o país: "Eu só quero que, na hora em que eles chegarem à
conclusão de que não tem nada contra mim, eles peçam desculpas".
No ato, o ex-presidente ainda criticou medidas econômicas tomadas
pelo presidente Michel Temer (PMDB) e defendeu que o país aumente a sua
dívida para retomar os investimentos.
Citou como exemplo países como Estados Unidos, Alemanha e França, que aumentar o endividamento após a crise econômica de 2008.
"Quem tem que ter coragem é o governo. Ou ele tem coragem de aumentar
imposto ou ele tem coragem de aumentar sua dívida", afirmou.
Disse ainda que, para tirar o país da crise, o presidente tem que ter
credibilidade e confiança, "o que só se conquista na urna".