sábado, 19 de novembro de 2016

Acusação a Geddel é grave; põe crise no colo de Temer



É grave a acusação de Marcelo Calero contra o ministro Geddel Vieira Lima (Secretaria de Governo) publicada na edição deste sábado (19) da Folha. Diante das declarações do ministro da Cultura, que anunciou na sexta (18) sua saída do cargo, o presidente Michel Temer tem duas alternativas: ignorá-las e aceitar as justificativas de Geddel, ou demitir uma figura do núcleo duro de sua gestão. A demissão de Calero deixou de ser uma mera divergência interna, como tentou transparecer o Planalto na sexta. Os motivos de sua saída são muito mais sérios do que se imaginava.

As duas medidas desgastam o governo. Segurar Geddel, acusado por Calero de pressioná-lo para favorecer interesses pessoais, joga para dentro do Planalto uma crise inesperada. Uma crise inconveniente para Temer pelo fato de Geddel ser estratégico como articulador político nas negociações com o Senado para aprovar a PEC do teto de gastos públicos, carro-chefe do governo para tirar a economia do buraco em 2017.
A segunda possibilidade para o presidente é controlar a turbulência imediatamente, tirar Geddel, mas ao mesmo tempo admitir que um dos seus principais assessores de confiança atuou para se beneficiar pessoalmente. É crise do mesmo jeito. Na entrevista a Natuza Nery e Paulo Gama, Calero fornece detalhes da pressão que teria sofrido por parte de Geddel.
Segundo ele, o ministro o procurou por cinco vezes para que intercedesse na aprovação do projeto imobiliário La Vue Ladeira de Barra, em Salvador, sob avaliação do Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), órgão subordinado ao Ministério da Cultura.
De acordo com Calero, o ministro afirmou ser proprietário de um apartamento no complexo. "E aí, como é que eu fico nessa história?", teria dito Geddel. Calero afirma que Geddel agiu de maneira "truculenta e assertiva", tendo feito uma ameaça ao colega de Esplanada: "Se for o caso eu falo até com o presidente da República".
O ministro da Cultura foi o quinto a deixar o governo desde que Temer assumiu a presidência, em maio. Antes deles, saíram Romero Jucá (Planejamento), Fabiano Silveira (Transparência), Henrique Alves (Turismo) e Fábio Osório (Advocacia-Geral da União).
Geddel será o sexto? A decisão está nas mãos de Temer ou do próprio Geddel.