Vinicius Torres Freire - Folha de S.Paulo
Um
trio liberal improvável pode comandar o governo da economia, segundo os
rumores mais recentes da República do Jaburu, o governo virtual de
transição de Michel Temer.
Um
tanto mais improvável porque José Serra, senador tucano, pode vir a ser
ministro de uma pasta costurada sob medida para ele. Trata-se de um
Itamaraty vitaminado com funções de diplomacia comercial, tarefas que,
em tese, estão hoje no Ministério do Desenvolvimento.
Desnecessário
dizer que Serra não é liberal. Mas faz quase 20 anos diz às claras e
mesmo em campanhas eleitorais que o presente acordo do Mercosul é um
empecilho grande a uma política agressiva de acordos de livre-comércio
entre o Brasil e outros países e blocos, do que teríamos necessidade
urgente.
Henrique Meirelles é liberal, ponto; deixou de ser rumor forte, pois começa a montar o time da Fazenda.
Romero
Jucá, dado como superministro do Planejamento, é voz de parte grossa do
empresariado no Congresso e defende o catecismo básico de contas
públicas em ordem, privatização e desregulamentação. Mas é senador do
PMDB, partido que se vestiu de ultraliberal entre agosto e outubro de
2015, roupa para a festa de deposição de Dilma Rousseff.
Quase
todo o restante do Ministério de Desenvolvimento ficaria sob Jucá em um
também vitaminado Ministério do Planejamento, como antecipou nesta
quinta (28) esta Folha. Note-se o tamanho do latifúndio ministerial de
Jucá, caso não se repasse alguma parcela para outro ministro: Orçamento,
planos de concessões e privatizações e, não é nada, não é nada, um
BNDES.
Voltando
ao caso de Serra, o senador não é, como se sabe, defensor de uma
abertura comercial sem mais. Costuma pregar a criação de um sistema
forte de defesa comercial.
Mas,
seja em programas de governo, entrevistas ou artigos, o plano explícito
de Serra seria transformar o Mercosul em apenas área de livre-comércio
(o que nem chegou a ser, vide as gambiarras dos acordos automotivos). Ou
seja, seria abandonada a união aduaneira (as tarifas de importação são
comuns ou para isso devem convergir; mudanças dependem de consultas no
bloco).