Mulher do
lobista Mauro Marcondes, Cristina Mautoni confirmou à Justiça Federal
ter assinado o pagamento de R$ 2,4 milhões à empresa do filho do
ex-presidente Lula, Luís Cláudio Lula da Silva.
O depósito foi
feito pela consultoria Marcondes e Mautoni, empresa da qual ela é sócia
do marido. A transferência é investigada pela Operação Zelotes.
Cristina, em
depoimento nesta terça-feira, disse que, embora seu nome conste na
organização societária da empresa, ele não participava dos negócios
tocados por Mauro Marcondes e que não leu o relatório entregue pela LFT à
Marcondes e Mautoni.
Ela afirmou, porém, que ao saber que o filho de Lula era o destinatário da transferência, interpelou o marido.
"Quando vi
filho do Lula, eu disse (para Mauro Marcondes): 'Você esta contratando
filho do lula?' Ele começou a falar do idealismo dele, ele me disse que
era para o centro de exposições, como todos os outros projetos", contou.
Ela argumentou ainda que confiava no marido, uma vez que jamais teve de fazer qualquer operação financeira em dinheiro vivo.
"Nunca paguei
R$ 4 milhões ao PT. Os pagamentos que eram TED ou depósito bancário. Ele
(Marcondes) não me pedia para pagar em dinheiro. Se ele me pedisse, eu
largaria ele na hora", afirmou, sem dar detalhes sobre uma eventual
transação para o PT.
Cristina, ré no
ação penal originária da Operação Zelotes, disse que sua participação
na empresa se limitava a trabalhos burocráticos e que seu marido não
admitia que ele fizesse pagamentos sem anuência dele.
"Ele (Marcondes) dizia que teve chefe a vida inteira e que agora não teria a própria mulher como chefe", contou.
Acrescentou
que, em consequência do estado de saúde de seu pai, afastou-se
completamente da consultoria. A partir de então, a função de auxiliar
Marcondes passou a ser desempenhada por uma secretária, segundo ele.
"Meu marido não
consegue mexer em computador, não se adaptou a essa tecnologia. Eu
recebia a maioria dos e-mails para imprimir e dar para ele", afirmou,
reiterando que não tinha de nenhum detalhe sobre os negócios feito por
Marcondes.
Disse que seu
marido dizia apenas que fazia "serviço institucional" para as empresas
que não possuíam um departamento específico para isso.
Ela afirmou que
assinava os contratos da Marcondes e Mautoni por orientação do advogado
da empresa, segundo ela, para evitar que os filhos do primeiro
casamento do lobista a criticassem.
"Tinha um
contrato que eu assinei, eu assinava todos os contratos. Eu sempre
acreditei no meu marido: 50 anos de indústria automobilística e 30 anos
de Anfavea...", justificou.
Cristina também
confirmou em juízo que foi apresentada a dois outros lobistas presos na
Zelotes: José Ricardo da Silva e Alexandre Paes dos Santos. Disse, no
entanto, que teve apenas contatos rápidos e protocolares com ambos.
Assim como a
própria Cristina e Mauro Marcondes, eles são acusados de participar de
um esquema de compra de medidas provisórias que concederam incentivos
fiscais ao setor automotivo.
Perguntada se
conhecia o ex-chefe de gabinete de Lula, Gilberto Carvalho, a mulher do
lobista disse que não, mas admitiu ter enviado um presente quando soube
que ele havia adotado duas crianças.
"Nunca vi
(Gilberto Carvalho). Meu marido disse que ele tinha adotado duas
crianças. Eu fiquei tocada de ele ter adotado duas crianças pobres. 'Eu
falei porque você não dá essas bonecas para essa duas meninas?',
justificou.
A respeito da
relação com Lula, Cristina disse que sabe apenas que seu marido esteve
com o presidente na época em que o petista era líder sindical. Afirmou
que as secretárias reclamavam da dificuldades de agendar uma audiência
no Palácio do Planalto após Lula assumir a presidência.