Túlio Velho Barreto afirma que o partido não o mesmo articulador da chamada “esquerda democrática”
Túlio Velho Barreto acredita que PSB deu guinada à direita
Túlio Velho Barreto, cientista político e
pesquisador da Fundação Joaquim Nabuco, avalia a decisão do PSB de
deixar a posição de independência de lado e migrar para a oposição à
presidente Dilma Rousseff (PT). Confira, a seguir, a entrevista com o
estudioso
Jornal do Commercio: com a saída
do PSB da “independência” e a ida para a oposição ao governo federal,
pode haver algum tipo de mudança no cenário político nacional?
Túlio Velho Barreto: não
acredito que tenha um impacto significativo. Embora o PSB tenha
importância política e eleitoral, não tem um peso determinante para
provocar uma mudança no quadro nacional. Além disso, é importante
lembrar que o PSB tem governadores que tem, como gestores públicos,
alguns interesses comuns com o governa federal e na superação das
dificuldades econômicas por que passa o País. Bem, de toda forma, a ida
de um partido com a tradição no campo popular, de verniz mais à
esquerda, como o PSB, para a oposição pode ter um certo simbolismo
negativo do ponto de vista político para o governo.
Jornal do Commercio: a
oposição feita pelo PSB ao governo de PT é avaliada como uma guinada à
direita dos socialistas. O senhor concorda com essa análise?
Túlio Velho Barreto: sim,
apesar de toda a dificuldade em representar, hoje, a localização dos
partidos no espectro ideológico, penso que o PSB tem dado essa guinada à
direita desde o afastamento do governador Eduardo Campos do governo
Dilma Rousseff, em especial quando optou por apoiar Aécio Neves, do
PSDB, no segundo turno em 2014. No plano local, suas alianças, hoje, são
com legendas e atores políticos colocados no campo mais à direita
mesmo, do centro-direita à direita, com exceção do PCdoB, que, enfim,
tem tido uma posição bastante oportunistas em suas alianças. Acho que
sua direção nacional do PSB está mais radicalizada nesse sentido, até
mais que os governadores, como disse, muito em função dos interesses que
esses têm em comum com o governo federal e a preocupação de superar o
mais rápido p ossível as dificuldades econômicas que se colocam para
todos.
Jornal do Commercio: O
presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira afirma que o partido terá um
foco próprio de oposição, diferente do DEM e do PSDB. O ambiente
político brasileiro permite espaço a uma terceira via?
Túlio Velho Barreto: no
âmbito do PSB a liderança mais radicalizada favorável à ida do partido
para oposição, defendendo, inclusive, que o partido seja protagonista na
direção do impeachment de Dilma Rousseff, é a sua direção nacional,
representada por seu atual presidente. Ressalte-se que o presidente
nacional do PSB, Carlos Siqueira, não é exatamente um político, no
sentido stricto do termo. É alguém histórico no partido, está lá desde a
chegada de Miguel Arraes ao comando nacional do partido, mas é alguém
da burocracia partidária, um político, vamos assim dizer, de gabinete.
Daí considerar que há interesses e posições distintas no interior do
partido, ainda. Parece-me que não há, por enquanto, uma posição
hegemônica, embora o afastamento do PSB do governo federal e do PT seja
evidente. Portanto, não sei exatamente qual a força do presidente
nacional do PSB para apontar o caminho a ser trilhado pelo partido. Com o
momento é de intenso conflito, nesse caso, não tenho certeza se há
espaço para manter-se muito na oposição sem assumir uma posição com
relação a qual deve ser o desfecho da atual crise política. Penso que o
PSB vai terminar sendo empurrado para a manutenção do mandato de Dilma
Rousseff ou aliar-se mesmo ao DEM e PSDB em defesa de sua saída.
Jornal do Commercio: na sua avaliação, que elementos levaram o PSB se distanciar política e ideologicamente do PT?
Túlio Velho Barreto: o
PSB dos anos 1940, artífice e protagonista da então chamada “esquerda
democrática”, ou mesmo o da retomada dos anos 1990, não existe mais.
Desapareceu com a morte de Miguel Arraes, em 20015, o que só percebemos
mais claramente com a ascensão definitiva de Eduardo Campos à direção
nacional do partido e sua experiência como governador. Mas foi,
sobretudo, a partir do apoio à candidatura de Aécio Neves, no segundo
turno de 2014, que isso parece ter se consolidado. Com Eduardo Campos
ascendeu à direção nacional e local uma geração sem a influência mais
direta dos ideais professados por Miguel Arraes ao longo de sua
trajetória política. Ou seja, do nacional-desenvolvimentismo e do
alinhamento com o então chamado “terceiro mundo”, respectivamente,
heranças dos tempos de Getúlio Vargas e uma consequência de quem viveu a
guerra fria intensamente. Além disso, do ponto de vista eleitoral,
Eduardo Campos vislumbrou a perspectiva de se tornar um ator político
competitivo, em particular, numa disputa contra Dilma Rousseff, já em
2014, como uma terceira via na disputa entre PT e PSDB.