Por Samuel Celestino
Dilma se tornou a própria crise. A sua sustentação no cargo
dependerá de alguns fatores, principalmente o que ela representa: a
incompetência para gerir, dialogar e o desmantelamento que ora se
verifica no PT, que perdeu o comando no Congresso. Daí as derrotas
seguidas que o Palácio do Planalto tem experimentado. Ontem à noite a
presidente se reuniu com 13 ministros, além de Michel Temer e seus dois
líderes congressuais. O assunto não foi a crise, porque a crise está
dentro do Palácio do Planalto refletida no espelho da presidente. O
temor que gera a desarrumação política chegou às ruas em forma do
impeachment, que poderá vira a ser - ou não ser - a depender dos
próximos dias, com a decisão do Tribunal de Contas da União e, em
seguida, de como repercutirá na Câmara dos deputados se a decisão for
negativa. O curioso é que o seu vice e interlocutor para assuntos
políticos, Michel Temer, poderá se transformar numa solução se Dilma
cair por impeachment, ou num problema se a crise se institucionalizar e
chegar ao Supremo Tribunal Federal, STF, única forma legal e
constitucional para a realização de uma nova eleição para os dois
cargos, presidente e vice. Fora daí é golpe. O Brasil é hoje uma
democracia e pelas vias democráticas terá que encontrar a saída da crise
que atravessa, na economia, na política, oriundas de erros do PT, que
construiu a corrupção hoje generalizada dentro do próprio governo, isso
na época em que José Dirceu dava as cartas. Lula, então, comandava o
país. Os próximos dias serão cruciais para o quesito corrupção, a partir
da Operação Lava Jato, se dois importantes empresários falarem, em
delação premiada: Léo Pinheiro e Marcelo Odebrecht. Se tal acontecer,
cai o rei de ouro, e o Brasil conhecerá o Brasil que os brasileiros não
tinham conhecimento. Estamos imersos numa situação de complicação
inimaginada. Por não se desejar golpe de estado, tudo ficará na
dependência do Judiciário. O poder antes tido como o mais fraco, será o
mais forte. O Executivo, antes o mais forte, fragilizou-se com o
desastre Dilma e o Legislativo também vive a sua própria crise política.
Será, no entanto, decisivo se houver as mudanças que se vislumbram ali
na esquina. Como na antiga brincadeira infantil da cabra-cega, Dilma
hoje seque sabe de onde vem e para onde vai. Sua memória está voltada
para três décadas atrás, quando ela e muitos milhares e milhares de
brasileiros combateram a ditadura. Daí repetir nos discursos recentes
que é forte. Foi. Há três décadas. Hoje é cabra-cega. Rodopia como um
pião.