O ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), revelou
perplexidade com o fato de um novo delator da Operação Lava Jato - o
lobista Hamylton Padilha, que agia na Petrobras - aceitar pagar multa de
R$ 70 milhões ao Tesouro. "Tudo o que vem sendo revelado (na Operação
Lava Jato) ultrapassa a nossa capacidade de imaginação", declarou o
ministro. "Tudo isso, na verdade, os números são realmente
extratosféricos e indicam que há algo ligado a algum tipo de corrupção
sistêmica. Nós não temos ainda a ideia do tipo de prática, do volume que
envolve esse chamado 'petrolão'. É altamente constrangedor para todo um
sistema de controle", disse o ministro, na noite de segunda-feira, 10,
após evento na Associação dos Advogados de São Paulo. Hamylton Padilha
confessou 'graves irregularidades' na Lava Jato envolvendo a contratação
do navio-sonda Titanium Explorer, em 2008, na Diretoria Internacional
da Petrobras. Uma propina de US$ 31 milhões foi acertada. Desse
montante, efetivamente teriam sido pagos US$ 10,8 milhões para o PMDB,
segundo a Procuradoria da República. Outros US$ 10 milhões foram
divididos com o então diretor da estatal, Jorge Luiz Zelada, e outros
investigados. Ao fechar o acordo de delação com a força-tarefa da Lava
Jato, Padilha concordou em pagar multa de R$ 70 milhões, um dos maiores
valores já pagos na Lava Jato. Montante igual ao que se comprometeu a
devolver o primeiro e principal delator da Operação, Paulo Roberto
Costa, ex-diretor de Abastecimento da Petrobras. Sobre as delações -
quase 30 já firmadas - no âmbito da Lava Jato, Gilmar Mendes disse que o
País 'está vivendo um aprendizado'. "Certamente, vão se detectar
deficiências e elas serão devidamente aperfeiçoadas, como já ocorreu em
outros sistemas." O ministro do Supremo anotou que 'os resultados (das
delações) até agora são satisfatórios'. Ele apontou 'problemas como a
possibilidade de coação, de a vontade não ser livre, de se estar
valorando demais o próprio conteúdo da declaração'.