Na sua fala, ontem, perante 20 dos 27 governadores que convidou a
pretexto de discutir as mudanças no ICMS, a presidente Dilma Rousseff
afirmou que o País passa por um ano de "travessia", mas fez questão de
destacar que a situação vai melhorar. "Nós estamos num ano de travessia,
essa travessia é para levar o Brasil para um lugar melhor", disse.
Dilma conclamou uma cooperação dos representantes de 26 estados e do
Distrito Federal para atravessar a atual situação econômica. O encontro,
realizado no Palácio do Alvorada, contou ainda com a presença de 10
ministros do governo. Ao dizer que não faltará "energia" para passar por
essa fase, a petista disse que o Brasil está "atualizando" as bases da
economia a fim de voltar a ter crescimento com preços baixos.
Numa espécie de mea culpa, Dilma disse que todos os presentes têm de
ter a humildade para receber críticas e sugestões. Mas disse que todos
têm interesse em cooperar. "Queria dizer aos senhores que eu
pessoalmente sei suportar pressão e até injustiça. Isso é algo que
qualquer governante tem de se capacitar para, e saber que faz parte da
sua atuação. Eu também quero dizer que tenho ouvido aberto, e também o
coração, porque tem de ter o ouvido aberto enquanto razão, e o coração,
enquanto emoção e sentimento", disse.
Para Dilma, um "novo Brasil" cresceu, se desenvolveu e não se
satisfaz com pouco, sempre quer mais. Ela disse que esse País cada vez
mais desenvolvido passou a exigir muito dos governos, citando os entes
federal, estaduais e municipais. "Nesse novo Brasil, nenhum governo,
nenhum governante pode se acomodar. Muita coisa nós sabemos que precisa
melhorar, principalmente porque sabemos que o nosso povo está sofrendo",
afirmou.
Ao conclamar apoio dos governadores, a presidente disse que a
cooperação federativa é uma "exigência constitucional". Para ela, é
preciso somar forças para atender melhor a população, para aqueles que
vivem do "suor do trabalho". "Quero dizer, do fundo do meu coração,
vocês podem contar comigo", destacou a presidente, ao citar que o Brasil
se passa nos Estados e nos municípios. Ao concluir sua exposição, ela
disse que é preciso incluir, crescer e preservar o meio ambiente.
Quanto à reforma do ICMS, afirmou ser um exemplo de iniciativa que o
Palácio do Planalto pode estabelecer em cooperação com Estados. "Tenho
certeza que nós temos várias iniciativas que podemos estabelecer juntos,
como por exemplo, a questão da reforma do ICMS. É uma reforma
microeconômica, que pode ter repercussão macroeconômica pro crescimento,
pra geração de emprego, pra melhoria da arrecadação dos Estados e
outras tantas. Eu conto com vocês."
O governo preparou uma "agenda positiva" a ser discutida pela
presidente com governadores, que inclui a unificação da alíquota do ICMS
interestadual, assim como a medida provisória que institui o Fundo de
Desenvolvimento Regional e Infraestrutura e o Fundo de Auxílio à
Convergência das Alíquotas.
"Vocês podem contar comigo", afirmou Dilma, dirigindo-se aos
governadores presentes. "O bom caminho é o caminho da cooperação, porque
é talvez a melhor tecnologia inventada pelo ser humano: cooperar. Mas
também eu acredito que nós chegamos a um patamar no nosso País em que
conquistamos muita coisa. Nós conquistamos a democracia. Nós
conquistamos um País que olha e percebe que é possível incluir e
crescer."
Dilma se agarrou aos governadores, na verdade, para buscar apoio
político ao momento mais difícil que enfrenta, com risco fenomenal de
sofrer um pedido de impeachment a partir do momento em que o Congresso
rejeitar as suas contas das pedaladas fiscais por uma recomendação do
Tribunal de Contas da União.