quarta-feira, 6 de maio de 2015

Ex-diretor da Petrobras acusa “maus políticos” por desvios

O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa admitiu, em depoimento de seis horas à Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) da Petrobras, que participou do esquema de corrupção na estatal e apontou três fatores que, segundo ele, permitiram que o esquema existisse: a atuação de “maus políticos”, a formação de cartel das empresas e a deficiência dos projetos de engenharia da Petrobras, que admitiam seguidos aditamentos e aumento de custos.
Ele confirmou o que já havia dito em mais de 60 depoimentos à Justiça Federal, em que detalhou o esquema de formação de cartel e o pagamento de propina por parte das empresas para partidos políticos, operadores do esquema e funcionários da Petrobras, como ele e o ex-diretor de Serviços da estatal, Renato Duque.
“Eu errei, mas esse processo só começou devido aos maus políticos e a empresas, que não são inocentes, e doaram dinheiro a políticos. Isso é um câncer na sociedade”, disse.
Relações ilícitas
Ele disse, no depoimento, que teve contato pessoal e relações ilícitas, que envolviam pagamento de dinheiro, com 28 políticos dos 52 que estão sendo investigados pelo Ministério Público Federal, com autorização do Supremo Tribunal Federal. Segundo Costa, o esquema financiava principalmente três partidos: PT, PP e PMDB.
“Quem teve relacionamento impróprio com o senhor?”, perguntou o deputado Ivan Valente (Psol-SP), deixando claro que “relacionamento impróprio” significava recebimento de dinheiro ilícito para campanhas.
O deputado leu os nomes dos 52 investigados e Costa implicou os seguintes:
  • os senadores Ciro Nogueira (PP-PI), Renan Calheiros (PMDB-AL), Romero Jucá (PMDB-RR), Edson Lobão (PMDB-MA), Valdir Raupp (PMDB-RO), Gleisi Hoffmann (PT-PR), Humberto Costa (PT-PE), Lindberg Faria (PT-RJ) e Fernando Bezerra (PSB-PE);
  • os deputados Benedito de Lira (PP-AL), Aguinaldo Ribeiro (PP-PB), Simão Sessim (PP-RJ), Luiz Fernando Faria (PP-MG), José Otavio Germano (PP-RS), Mário Negromonte (PP-BA), Aníbal Gomes (PMDB-CE), Eduardo da Fonte (PP-PE), Arthur Lira (PP-AL) e Nelson Meurer (PP-PR);
  • os ex-deputados Pedro Corrêa (PP-PE), Pedro Henry (PP-MT), Cândido Vaccarezza (PT-SP) e João Pizolatti (PP-SC);
  • os ex-senadores Sérgio Guerra (PSDB-PE), já falecido, e Roseana Sarney (PFL-MA);
  • o ex-ministro das Comunicações Paulo Bernardo (PT);
  • o ex-governador do Rio de Janeiro Sérgio Cabral (PMDB); e
  • o atual governador do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão (PMDB).
Paulo Roberto Costa disse não conhecer outros políticos investigados pelo Ministério Público, como o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha. Ele disse também que não conhecia o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto – apontado por Youssef e outros delatores do esquema como operador do partido.
Ele afirmou, porém, que conheceu o empresário Fernando Soares, o Baiano, apontado pelo Ministério Público como operador do PMDB. Soares teria pago a ele 1,5 milhão de dólares para que o então diretor da Petrobras “não atrapalhasse” a compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos.
Campanhas eleitorais
Ele relacionou o pagamento de propina a partidos e políticos com campanhas eleitorais.
Segundo o ex-diretor da Petrobras, doações de campanha feitas por empresas a partidos e políticos não passam de uma espécie de “empréstimo” – como já tinha dito em depoimentos de delação premiada. “Não existe doação que depois a empresa não queira recuperar. Isso foi me dito por empresários”, disse. “Várias doações oficiais vieram de propina. Está claro na operação Lava Jato”, acrescentou. “Por que uma empresa vai doar R$ 20 milhões para uma campanha se lá na frente ela não vai querer isso de volta? Não existe almoço grátis”, concluiu.
Segundo Paulo Roberto Costa, esquema de irregularidades semelhante ao que funcionava na estatal ocorria também em outras áreas, como no setor elétrico. Ele falou especificamente da construção da usina nuclear Angra 3, o que foi dito à Justiça pelos empresários Eduardo Leite , ex-diretor da empreiteira Camargo Correa.
Em depoimentos à Justiça, Costa acrescentou ainda a construção de hidrelétricas. Costa disse isso ao responder pergunta do deputado Valmir Prascidelli (PT-SP)
Outros partidos
Além do PT, PP e PMDB, Costa relatou casos em que dinheiro foi pago também a outros dois partidos, o PSB e o PSDB. Ele afirmou que autorizou pessoalmente o pagamento de R$ 20 milhões para a campanha do então governador de Pernambuco Eduardo Campos, em 2010. Segundo o ex-diretor, o pagamento foi intermediado pelo senador Fernando Bezerra, na época assessor de Campos.
Ele também confirmou à CPI teor de depoimento que já havia prestado à Justiça Federal, em que acusa o deputado Eduardo da Fonte (PP-PE) e o ex-presidente do PSDB Sérgio Guerra de cobrança de propina de R$ 10 milhões para evitar investigações de uma comissão parlamentar de inquérito no Congresso.
“Eu recebi um pedido do deputado Eduardo da Fonte para se encontrar comigo e, chegando lá, estava também o senador Sérgio Guerra. Eles me disseram que estava ocorrendo uma CPI sobre a Petrobras e que isso poderia ser minorado ou postergado, mas que precisava ter um ganho, um ajuste financeiro”, disse.