domingo, 12 de abril de 2015

Dilma entrega os anéis

por Samuel Celestino
 
Coluna A Tarde: Dilma entrega os anéis
Dilma Rousseff a cada momento demonstra estar perdida no seu labirinto do Palácio do Planalto. Até Lula quando resolve ajudá-la, se é que se pode chamar de ajuda a sua sugestão – melhor, pitaco - errou feio. A presidente escorregou ao escolher, sem a ninguém consultar, o petista gaúcho Pepe Vargas para ser seu interlocutor político, oferecendo-lhe a Secretaria de Relações Institucionais. Vargas foi um fiasco. Ou é tímido ou a ele os caciques do Congresso não deram importância. Foi quando surgiu Lula no cenário e a aconselhou convidar o ministro da Aviação Civil, Eliseu Padilha, que fizera a interlocução com o Senado e Câmara na gestão de FHC, para o cargo. Padilha disse-lhe um sonoro “não” informando-a que preferia ficar quietinho no seu ministério do nada.
   
Exatamente neste ponto que Dilma derrapou feio. Entregou o que ela sempre ambicionou e o que há de mais precioso no poder da República. Transferiu para o presidente (no momento de honra) do PMDB, seu vice Michel Temer, de bandeja o comando político da República. Agora será com Michel Temer, e não com ela, que se estabelecerá o diálogo entre o Palácio do Planalto e o Congresso Nacional. Note-se que o PMDB chegou ao topo da República, sem as mesuras que ficarão como legado de Dilma – é o que lhe resta – Já Temer com o poder inesperado passa a dever aos presidentes da Câmara, Eduardo Cunha, e do Senado (quem diria) Renan Calheiros, prazer de lhe ouvir. Como novo comandante-em-chefe em ação, ele ficará mais forte, mas o PMDB poderá cantar de galo e, afinal, dizer que “chegou lá”.
  
A verdade é que a presidente estava encurralada, experimentando derrotas sucessivas no Congresso, exatamente por falta de assessores competentes para estabelecer o diálogo entre os dois poderes. Quem primeiro tentou, mas desabou, foi o chefe da Casa Civil, Aloízio Mercadante, cuja antipatia percorre os corredores da Câmara e do Senado. Sentia-se, e provavelmente ainda se considera o príncipe do Palácio do Planalto. Dilma tanto pintou e bordou que agora lhe resta usar o baralho para jogar paciência, porque a sua prepotência e a sua arrogância foram para as quintas do diabo.
  
Ao entregar a uma raposa de gestos educados e finos a condução política do seu governo, ela ficará ao mesmo tempo nas mãos do vice e, de certo modo, nas do presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha, que muito rapidamente ganhou uma força política descomunal na Casa que preside onde é ouvido por seus pares. De tal modo que a bancada do PT se encolheu e perdeu a sua significância que antes exibia, por ter um poder indireto que nascia no Palácio do Planalto e agora passou a estar com o PMDB, dividido entre o vice-presidente Michel Temer e o próprio Cunha. Melhor deixar Calheiros à margem.
  
A primeira demonstração de habilidade de Michel deu-se quando, ao ser convidado para o cargo pela ausência de outro nome que se submetesse à prepotência de Dilma, a ela ele disse, de primeira, que faria a interlocução política, mas não aceitava a Secretaria de Relações Institucionais, desfeita no exato momento em que ele colocou a sua condição. Por que Michel Temer usou deste sábio artifício? Fácil entender. Não tendo o cargo e lançando ao lixo o ministério, ele trabalhará nos contatos políticos como vice-presidente, e não como subalterno da presidente da República. Teria mesmo que ser assim, ou nada.
     
Imaginem uma situação como a que se segue: Temer procurar Calheiros ou Eduardo Cunha e ao ser recebido com um “mas que prazer conversarmos, ministro, sobre os problemas republicanos”. Nada. Ele conversará como o segundo nome, quase o primeiro, que o País passa a ter. Foi uma resposta como poucas vistas dada a Dilma Rousseff, que antes o tratava com desdém e sequer era convidado para discussões do interesse do País. O vice, afastado, tinha apenas o direito, por ser sua casa, de receber políticos no Palácio do Jaburu para um jantar jogando conversa fora. Agora é diferente. A ele caberá dizer à presidente que quer um espaço na sua agenda para levar decisões que ocorrerão no Congresso e, logo, logo, as portas do gabinete presidencial ficarão abertas, além dos salamaleques com que ele será recepcionado pelo alto escalão do Planalto e pelos chamados “ministros da Casa”, que passarão a fazer-lhe mesuras.
 
Assim, com o prestígio em baixa, também junto ao povo (e até dentro do PT) Dilma entregou os anéis. Melhor do que perder os dedos. Não é, Lula?