domingo, 8 de março de 2015

Sanatório Brasil: Samuel Celestino


Coluna A Tarde: Sanatório Brasil

O País assemelha-se a um estranho que passeia na frente de um manicômio do seu exato tamanho. Convulsionado pela realidade mergulhada em crise, observa-se uma presidente reclusa que nada tem a dizer ou a explicar. Um zumbi da política. Não tem mesmo o que falar. O Poder Executivo está de ponta-cabeça. Já o Congresso experimenta um pânico total e treme nas suas bases. Vê-se um presidente do Senado andando como um pato manco pelos corredores da Casa, arrodeado de áulicos e de jornalistas, fingindo rir para não chorar. Está imerso nas suas imensas preocupações, resultado da própria índole. O presidente da Câmara também perdido, por estar, assim como Renan Calheiros, citado na lista Janot, completa o quadro. Eduardo Cunha designou para a presidência da CPI da Petrobras um deputado inexperiente, de apenas 25 anos. É doidice mesmo na porta do manicômio Brasil.

Na primeira sessão, o menino-presidente duplicou as quatro relatorias importantes da CPI. Transforma-as em oito sem a ninguém consultar. O pau quebrou na casa da mãe Joana. Arranjou uma briga, na qual rebateu repetindo o mesmo refrão: “me respeite, me respeite, respeite”. Tudo isso acossado por parlamentares com os dedos indicadores em riste dirigidos à sua cara. Deputados deselegantes e com pouca representatividade no parlamento. O Brasil virou um sanatório geral.

Já o Judiciário, único poder silencioso, manteve-se, até aqui, na postura que lhe cabe, pelo menos o Supremo Tribunal Federal (STF). O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, redigiu um documento dirigido aos procuradores do Ministério Público explicando as suas posições no relatório encaminhado à Suprema Corte. Mas, para que não deixasse de apresentar nada que não fosse burlesco à República, ofereceu o triste caso de um complicado juiz federal que acabou afastado das suas funções por perder a cabeça e dirigir dois carros de luxo do ex-bilionário Eike Batista, que o juiz confiscara para garantir o pagamento de supostas dívidas. O desconhecido magistrado integrante do sanatório da República, quis experimentar e se exibir, a partir de uma loucura qualquer, dirigindo carrões para sentir o sabor (é a única suposição possível) de ser também um bilionário. Experimentou a sensação de ser um Eike de toga.

Dilma saiu vitoriosa de uma eleição comemorada ainda outro dia. Logo depois entrou no segundo mandato completamente derrotada. Tudo muito rápido porque no meio havia mentiras, como acentuou, em artigo, a senador Marta Suplicy. Ela e o País. O cenário, assim, se revela carimbado por um desastre governamental, consequência da incompetência da presidente; da corrupção que ameaça a Petrobras e a economia, já em total parafuso. Caberá à população pagar a conta do despreparo. Assim, Executivo e Legislativo, a um só tempo, atravessam uma fase complicadíssima.

A base de sustentação do governo desaba. O PMDB, temendo a cassação de mandatos em massa, está preocupado com ele próprio e se aproxima da oposição. Se o Congresso não cumprir o dever que lhe cabe, cassando mandatos corrompidos, o que poderá acontecer mais adiante? Muitos integrantes do Conselho de Ética, primeira etapa da cassação, tiveram os seus mandatos bancados por doações de empreiteiras envolvidas na Operação Lava Jato. Trópicos complicados. Sequer convém imaginar o que poderá vir por aí. Não será seguramente coisa boa para os brasileiros, que imaginavam que tempos como estes haviam ficado no passado.

Com os nomes dos políticos envolvidos a partir da divulgação pelo Supremo, teremos nas semanas que se seguem, talvez alcançando todo este ano de 2015, uma situação impensável antes das eleições de outubro. Estava tudo debaixo do pano. Engabelaram os brasileiros. Mentiram e mentiram descaradamente.